Respeitar a nossa língua é uma forma de fazer educação
Respeitar a nossa língua é uma forma de fazer educação

Nelson Valente

Os debates se sucedem e nem sempre as teses são renovadas. Repetem-se conceitos e reclamações, como se a educação fosse mesmo um imenso e monótono realejo.

O curioso é que, vez por outra, aparece algum vereador interessado em ensinar às nossas crianças a biografia dos homenageados, o que, aliás, é uma boa ideia. Pelo menos um resumo poderia ser colocado na primeira placa de rua. Se isso é de grande utilidade, mais importante ainda é escrever os nomes de maneira correta. Respeitar a nossa língua é uma forma de fazer educação.

Em primeiro lugar, pode-se registrar o fato, facilmente comprovável, de que nunca se escreveu e falou tão mal o idioma de Ruy Barbosa. Culpa, quem sabe, da deterioração do nosso sistema de educação básica.

Em segundo, o pouco apreço que devotamos ao gosto pela leitura.

Em terceiro lugar, para não ir muito longe, podemos citar a “contribuição” dos meios televisivos. Donos de uma força descomunal, salvo as exceções de praxe, como os programas gerados pela TV Cultura de São Paulo, praticam um magistral desserviço à educação brasileira. Comunicadores falam mal, atores não se expressam adequadamente, dublagens são feitas de forma chula, programas infantis deseducam – o que se pode esperar desse triste universo?

Que se lê pouco , em nosso País, não há menor dúvida. Nossa média é de menos de dois livros por habitante. Nos países desenvolvidos é de 6 ou 7, como acontece na França e na Alemanha. Temos uma longa caminhada nessa área, até chegar, por exemplo, perto do que ocorre nos Estados Unidos, onde o consumo “per capita” de livros é de 10 por ano. Será que um dia chegaremos lá ?

A conclusão é óbvia: sem leitura, como escrever adequadamente? O primeiro passo é mesmo a entrega de voluptuosa aos livros, sobretudo os nossos clássicos, sem esquecer os jornais e revistas também podem ser fundamentais.

Os pais devem considerar o livro como um instrumento com que a criança tenha um relacionamento íntimo, no qual vai aprender lições que ajudarão muito na sua formação posterior. Se uma criança não possui o gosto pela leitura na infância, na adolescência ou na fase adulta as coisas se tornarão difíceis.

O pré-escolar é o grande momento onde deve haver um estímulo à leitura. Essa relação deve ser bem natural, e de forma lúdica, tanto em casa quanto na escola. Mas temos uma grande preocupação com o que a criança realmente deseja. Afinal, o que ela pensa sobre os títulos que estão à sua disposição? Sendo ela a maior interessada, é justo que se faça um levantamento nacional sobre as aspirações do nosso público infanto-juvenil, isso evitaria o pseudodidatismo que pode ser detectado em muitas obras.

O que fazer para os estudantes leiam mais? A resposta não é tão simples. Os professores podem, discretamente, variar a oferta literária, entendendo que literatura não é língua somente.

A leitura da obra literária, luxuosa ou não, é o ponto de partida ou regra de ouro do ensino de letras, que lidará com gêneros ou tipos conhecidos desde Aristóteles. Assim são criados os fundamentos literários para trabalhar o lirismo, a narrativa  (conto, romance, epopeia etc.) e outros tipos, como as memórias, o diário, a máxima, identificar o gênero é um primeiro e fundamental exercício, a que se deve somar o exame da estrutura da narrativa: enredo, personagem, tempo, ordem de relato, suspense, apresentação e desfecho.

Criar o hábito (ou gosto) pela leitura é um primeiro passo que depende basicamente de pais e professores. Há uma idade para isso, que infelizmente para os calouros não coincide com os seus 17 ou 18 anos. Começa antes, na altura ainda do ensino fundamental. Depois, é só alimentar a cabeça de bons produtos, a fim de que persista o interesse.

O bom professor , que estimula o gosto de ler, promove a leitura acompanhada, dialogada, comentada, leitura a dois etc., para identificar com os alunos a existência de uma obra de arte literária. Quando ocorre a descoberta, não há dúvida, estamos diante do intrincado e maravilhoso mundo da literatura. É o campo de ação do ‘Dia da Leitura’, que devem ser estimuladas em todo o Brasil.

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Nelson Valente  é jornalista, professor universitário e escritor. Pesquisador nas áreas de psicanálise, comunicação, educação e semiótica. É mestre em Comunicação e Mercado e doutor em Comunicação e Artes. O autor também é especialista em Legislação Educacional, Psicanálise,Teoria da Comunicação e Tecnologia Educacional e já publicou 16 (dezesseis) livros sobre o ex-presidente Jânio Quadros e outros sobre educação, parapsicologia, psicanálise e semiótica, no total de 68 (sessenta e oito) livros e alguns no prelo. Ex-presidente da Academia Blumenauense de Letras/ALB, Acadêmico. Membro da Sociedade dos Escritores de Blumenau/SEB

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