Nelson Valente

Em 21 de abril de 1969 – por estranha coincidência, dia e mês em que Tiradentes foi enforcado -, Mendes foi declarado Aspirante a Oficial da Força Pública do Estado de São Paulo, aos 22 anos de idade. Em 2 de julho de 1969, apresentou-se ao 15.º BPM – Batalhão Policial Militar, onde fora classificado devido a promoção.

Em 15 de novembro de 1969, foi promovido por merecimento intelectual ao posto de 2º Tenente, permanecendo naquela Unidade. Em 06 de fevereiro de 1970, deslocou-se para o Batalhão “Tobias de Aguiar” ao ser transferido por conveniência do serviço.

Logo à chegada, se entrosou com os novos companheiros, que lhe deram o carinhoso apelido de “Português”. Alegre, sempre sorridente, dedicava-se com afinco ao serviço, desempenhando com galhardia todas as missões.

A emboscada

No final de abril de 1970, era descoberto o foco terroristas da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) no Vale do Ribeira, próximo ao Litoral Sul paulista. Tropas do Exército, da Força Aérea, Marinha e Força Pública do Estado de São Paulo, deslocaram-se para aquela região inóspita. Porque os assaltos e homicidios eram sucessivos, não se tinha garantia de nada, matava-se por qualquer bobagem e corríamos o risco de uma guerra civil.

O 1.º BPM “Tobias de Aguiar”, 7º BPM-Sorocaba ( Batalhão Escola na Formação de Soldados) – foram designados pelo Comando Geral da Força Pública do Estado de São Paulo, para prestar apoio à Companhia Independente com sede na cidade de Registro. Para lá seguiu o tenente Mendes no comando de um pelotão. Todos os policiais-militares daquele e de outro pelotão estavam subordinados ao capitão PM Carlos de Carvalho.

Após uma semana naquela cidade, o capitão recebeu ordens para regressar com um de seus dois pelotões a São Paulo, deixando em Registro apenas o outro, comandado por um dos oficiais à sua escolha.Não houve opção:

 Mendes apresentou-se e solicitou a permanência. Mais uma prova de sua dedicação ao serviço.

Por volta das 21 horas de 8 de maio, seis terroristas comandados por um desertor, covarde, assaltante, homicida, chamado Carlos Lamarca e atacaram de surpresa um dos postos guarnecidos por oito integrantes do pelotão remanescente, nas proximidades de Sete Barras. Começava uma cilada. Ao saber que aqueles seus soldados estavam feridos, o tenente acorreu ao local para lhes prestar socorro. Era o que os sicários de Lamarca queriam. Haviam mantido sob vigilância os PMs feridos para atrair seus companheiros. Assim, no total, puderam cercar 20 soldados.

Os assassinos

Sob fogo de fuzis FAL e metralhadoras por todos os lados, o tenente Mendes precisava tomar uma decisão: ou ordenava o cessar fogo e entregava-se sozinho, ou morreriam todos. Como autêntico líder, propôs aos gritos que ficaria como refém em troca da vida dos comandados.

No dia seguinte à captura do tenente, dois terroristas perderam-se pelo caminho. O grupo ficou reduzido a cinco elementos e Lamarca considerou os desaparecidos como mortos. Ordenou que o refém pagasse a “traição” com a vida.

Enquanto Ariston Oliveira Lucena e Gilberto Faria Lima vigiavam o prisioneiro, Lamarca, Yoshitane Fujimore e Diógenes Sobrosa de Souza afastaram-se. Constituíram o que chamaram de “tribunal revolucionário” e condenaram o tenente à morte.

Em seguida, Yoshitane Fujimore desferiu-lhe coronhadas de fuzil pelas costas. Caído e com a base do crânio partida, o tenente Mendes gemia e contorcia-se de dor. Diógenes Sobrosa de Souza desferiu-lhe os golpes finais, esfacelando-lhe a cabeça. Ali mesmo, numa pequena vala e com os coturnos ao lado da face ensangüentada, o corpo foi enterrado.

Estes fatos só foram esclarecidos após a prisão do terrorista Ariston Oliveira Lucena, que apontou o local onde os despojos estavam enterrados. As fotografias tiradas do crânio atestam a violência desmedida. Ao saber do que acontecera, a mãe da vítima entrou em estado de choque e ficou paralítica por três anos.

Morte inglória

Descoberto o crime, a VPR – organização baseada na ideologia comunista – emitiu um comunicado “Ao Povo Brasileiro”, onde tenta justificar o covarde e frio assassinato. Dele consta o seguinte trecho:

“A sentença de morte de um Tribunal Revolucionário deve ser cumprida por fuzilamento. No entanto, nos encontrávamos próximos ao inimigo, dentro de um cerco que pôde ser executado em virtude da existência de muitas estradas na região. O tenente Mendes foi condenado e morreu a coronhadas de fuzil, e assim o foi, sendo depois enterrado.”

Alberto Mendes Jr. recebeu promoção “post mortem” a capitão.

 

Nelson Valente é professor universitário, jornalista, escritor e inestimável amigo.

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4 thoughts on “Carinhosamente, "Português"

  1. Rose says:

    Ok, resposta aceita, rs
    Dei por sua indicação uma lida na biografia de Nelson Valente, além de escrever sobre o populista Jânio Quadros, é um conhecedor na relação de ensino e aprendizagem, fantástico !
    Boa dica como sempre Giba, obrigada.
    E quanto as receitas mandarei mais logo,logo, aguarde.
    Gosto de blogs com conteúdo, parabéns !

  2. Giba says:

    Não Rose, pode ter certeza que não.
    Nelson Valente é um amigo que me concedeu a honra de poder publicar seus artigos, que ele me envia por e-mail.
    Nelson Valente é considerado o maior especialista em Janio Quadros na atualidade.
    Ele também já escreveu algumas miniséries para a Rede Globo de Televisão.
    O Nelson é escritor, jornalista e professor universitário. Eu sou apenas um técnico que teima em tentar conseguir fazer um blog de qualidade.
    Da mesma maneira que publico os artigos do Nelson Valente, tenho aberto a todos os meus amigos o mesmo espaço para publicação de seus artigos aqui no Gibanet, porém nem todos se interessam.
    Confesso que sou admirador do belíssimo trabalho do Nelson e gosto muito de seus artigos. Você mesma pode conferir a qualidade do que ele escreve.
    Da mesma maneira que você questionou sobre o Nelson, em breve alguém poderá perguntar de quem são as receitas que você me enviou e que serão publicadas aqui, assim que eu terminar de revisar o próximo artigo, sobre a igreja Presbiteriana.
    Em resumo, me falta muito estudo e muita competencia para chegar perto do que é hoje o Nelson Valente.
    Um grande abraço
    Giba

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