Massucatti Neto

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O que se esconde atrás do ar de bom moço?

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                               A muito aprendi que quem convive com o erro ou é incompetente para combater o problema ou conivente com ele, digo isso pois a pouco tempo vi uma entrevista de um pseudo humorista que fazia a vez de um repórter, entrevistando vários políticos sobre o assunto: “presos políticos ou políticos presos do mensalão…” teve a sorte de entrevistar o quase beatificado Senador Suplicy. Em uma brincadeira comentou sobre o condenado José Dirceu ter também, assim como seu comparsa Genoíno, um problema de saúde a cleptomania, o senador mostrou indignação e rebatendo o “repórter” perguntava: quais provas você tem, onde o entrevistador rebatia dizendo: o STF. Assim transcorrendo a conversa o humorista enveredou para um lado mais ameno a brincadeira, pedindo para Suplicy mostrar seus dotes artísticos cantando.

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                               Antes de mais nada quero deixar claro que acredito piamente que o senador Suplicy é um político honesto, um dos poucos que existem, que sua conduta nesses anos legislando sempre foi ilibada e que nesse caso do mensalão assim como em outros nunca participou ou se beneficiou de qualquer forma. Ainda incorrendo no risco de cutucar um vespeiro, pois certos nomes entraram para a história como intocáveis, irrepreensíveis e quase santificados, nomes como Tancredo Neves, Mario Covas, Ulisses Guimarães e Eduardo Suplicy, os quais a simples menção ou crítica suscita represálias, o que quero questionar nesse artigo é:

A inercia de Suplicy ante a questão mensalão e a sua resistência em aceitar que o fato ocorreu e que seus camaradas de partido foram julgados e condenados pela lei, em um processo legitimo dentro de princípios democráticos.

                               O mensalão foi um processo que atingiu vários políticos dentro e fora do PT, durante um longo período não foi algo feito às escondidas, apenas não havia sido denunciado, para manter esse processo necessitava de uma estrutura muito complexa envolvendo várias pessoas e instituições, algo assim para um observador atento seria fácil de ser percebido, afinal as paredes dos escritórios de Brasília não assim tão grossas e a prova de som, nem nossos políticos são tão discretos e cometidos em seus comentários pelos corredores, acreditam sempre na impunidade de seus atos.

                               O senador Suplicy sempre teve em seu currículo a fama de ser combativo contra a corrupção e delator de atos escusos, pelo menos de outros partidos, quem não se lembra de seu antológico ato de dar um cartão vermelho para o senador Sarnei ante as denúncias arquivadas contra ele, quem não se lembra de seu choro ao assinar o abaixo assinado para CPI que desvendaria esquemas de corrupção no governo Lula e o apoio que deu aos dissidentes do PT que vieram a fundar o PSOL, ou seja, uma carreira marcada pelo inconformismo e combatividade com o erro e a corrupção.

                               Com uma personalidade atípica e estilo inconfundível, é senhor de uma calma e modos serenos quase de um monge Zen, tomando atitudes fora dos padrões convencionais de um legislador por vezes pede a palavra para então declamar letras de músicas dos racionais ou cantar músicas de Vinicius. Prolixo em seus longos discursos os torna mais enfadonhos por ter uma oratória lenta e extremamente pausada, é possível ver vários de seus pares em sono profundo ou com total desinteresse ao assunto por ele exposto.

                               Por essas e outras características Suplicy é um senador impar também com uma honestidade impar para os moldes da política brasileira atual. Por isso é estranho que durante esse período em que ocorreu o mensalão ele não tenha percebido o que acontecia e mesmo depois da denúncia de Jeferson e julgado pelo STF, ele ainda teime em dizer que não há provas. Será que sua percepção foi embotada pela ideologia ferrenhamente por ele protegida e nosso senador não teve competência para perceber o que ocorria ao seu redor em seu partido, mesmo ele sendo fundador ativo e fazer parte da cúpula do PT? Ele nunca percebeu nada?

                               Ou será que em defesa de uma ideologia, seguindo a cartilha vermelha que rege os partidos de esquerda ficou à margem do assunto, preferiu não ver, escolheu não acreditar, seguindo as orientações da cúpula petista?

                               Ser fiel a uma ideia é muito admirável, mas quando vejo que o grupo em que me filiei já não apresenta os ideais que acredito é mais admirável buscar outros caminhos, o PT não é mais o que era a vinte anos, ou pelo menos agora no poder ele mostra verdadeiramente ao que veio, Heloisa Helena quando percebeu isso não titubeou e com risco político de sua carreira deixou as fileiras petistas. Não seria a hora do idôneo senador perceber isso e buscar novos caminhos?

                               Correndo o risco de macular sua carreira mantendo-se em um partido envolto em tantos escândalos, o senador faz o ar de bom moço sendo, talvez, o melhor do PT no que diz respeito a postura, trabalho e honestidade. Entretanto ele sabe do projeto de perpetuação do governo petista seja a qual custo for, ele conhece por dentro as artimanhas usadas pelos cabeças do PT e seu ideal de um pais regido pelo comunismo, ele crê nisso e por isso ainda se mantem no PT. Acreditarmos que o senador Suplicy desconhece o que ocorre nos bastidores da política do país e de seu partido, seria ingenuidade, seria achar que o senhor Eduardo é um rapaz inocente, puro e besta, como diz a música de Raul Seixas.

                               Torno a repetir, não acredito que o senador de alguma forma se beneficiou diretamente do escândalo mensalão, nem tirou proveito particular do assunto, acredito que Suplicy tem fundamentos de uma pessoa honesta, mas quem é omisso ante o erro ou é conivente com a coisa errada ou é incompetente.

                               Ante as provas do mensalão ele é qual dos dois?

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