O Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, participou hoje (28/6) de um encontro na Assembleia Geral, na sede de Nova York, para comentar os resultados da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20). Leia abaixo a declaração de Ban Ki-moon na íntegra:
“Obrigado por me convidarem a falar hoje.
Voltei no sábado [23/6] da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.
Imediatamente antes, eu estava em Los Cabos, no México, para a Cúpula do G20.
Em Los Cabos, encorajei os líderes a se concentrarem em reduzir a pobreza, criar empregos e priorizar o desenvolvimento sustentável.
E, no Rio, vi que os governos do mundo estão preparados para fazer exatamente isso.
Cheguei com a notícia de que o documento final da Rio+20 – O Futuro que Nós Queremos – havia sido acordado.
Isso representa uma vitória importante para o multilateralismo depois de meses de difíceis negociações.
Eu agradeço à Presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, e sua equipe pela liderança e pela diplomacia que nos trouxe a esta conclusão frutífera.
Agradeço também aos muitos membros da Assembleia Geral cujos negociadores estavam trabalhando dia e noite com um senso de flexibilidade e compromisso.
E também agradeço ao Subsecretário-Geral Sha Zukang e sua equipe, que tem trabalhado como Secretário-Geral da Conferência e que fez desta Conferência Rio+20 um grande sucesso.
Excelências,
Deixe-me ser claro. A Rio+20 foi um sucesso.
No Rio, vimos a evolução de um movimento global inegável para a mudança.
Mais de 100 Chefes de Estado ou de Governo estiveram representados na Conferência. Muitos outros envolvidos diretamente a partir de suas capitais.
E a sociedade civil e o setor privado tiveram um papel sem precedentes.
O essencial da Rio+20 é o documento final. Isso fornece uma base sólida para construir um futuro sustentável.
Há muitos destaques sobre O Futuro que Nós Queremos – muitos para listar aqui – então deixe-me selecionar apenas sete.
Primeiro – e mais importante –, a Rio+20 renovou e reforçou o compromisso político para o desenvolvimento sustentável.
Equilibrou as visões de 193 Estados-Membros das Nações Unidas e reconheceu a pobreza como o maior desafio para o bem-estar econômico, social e ambiental.
Em segundo lugar, vocês – os Estados-Membros – concordaram em lançar um processo para estabelecer objetivos universais de desenvolvimento sustentável, ODS [Objetivos de Desenvolvimento Sustentável].
Os ODS estarão baseados em nossos avanços no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio [ODM], e eles serão parte integral do quadro de desenvolvimento pós-2015.
O Sistema das Nações Unidas vai trabalhar em estreita colaboração com os Estados-Membros para desenvolver os ODS e as ferramentas que precisamos para medir o seu sucesso.
Em terceiro lugar, o documento enfatiza a importância da igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres. Esta é uma prioridade importante para mim. É fundamental para o desenvolvimento sustentável. Recomendo aos Estados-Membros que enfatizem esta importante questão.
Em quarto lugar, as parcerias.
Os governos permanecem no centro. Mas sabemos que os governos sozinhos não podem fazer o trabalho. Precisamos da participação ativa e apoio de todos os principais grupos da sociedade civil, incluindo o setor privado.
Para o meu segundo mandato, identifiquei as parcerias como um meio central de alcançar nossos principais objetivos. Nossas parcerias sobre a saúde das mulheres e das crianças, segurança alimentar e nutricional, e Energia Sustentável para Todos estão tendo um impacto crescente.
Em quinto lugar, o documento final concorda em fortalecer a arquitetura para apoiar ações internacionais para o desenvolvimento sustentável.
Isto inclui o estabelecimento de um fórum político de alto nível sobre o desenvolvimento sustentável e do fortalecimento do Programa da ONU para o Meio Ambiente [PNUMA].
Em sexto lugar, a Rio+20 adotou um quadro de dez anos de Programas sobre o Consumo e a Produção Sustentáveis.
Além disso, o documento final reconheceu a necessidade de ir além do produto interno bruto [PIB] como uma medida do progresso, e reconheceu o papel que a economia verde pode desempenhar na redução da pobreza, no crescimento econômico e na preservação ambiental.
O Sistema das Nações Unidas tem uma experiência considerável neste domínio e está pronto para trabalhar com todos os Estados-Membros que desejam explorar as opções da economia verde.
Em sétimo lugar, a Rio+20 reconheceu o direito à alimentação e a importância da segurança alimentar e nutricional para todos. Reconheceu que estes podem ser alcançados através da agricultura e dos sistemas alimentares sustentáveis.
Na Rio+20, lancei o Desafio Fome Zero. Trabalhando com governos, sociedade civil, empresas e parceiros de desenvolvimento, pretendemos proporcionar um melhor acesso a alimentos nutritivos para todos. Queremos acabar com a desnutrição infantil, promover sistemas alimentares sustentáveis, aumentar a produtividade dos pequenos agricultores e parar a perda e o desperdício de alimentos.
Excelências, Senhoras e Senhores,
Se o documento final é a base para a próxima fase da nossa jornada para o desenvolvimento sustentável, os compromissos anunciados no Rio são os tijolos e o cimento.
Eles serão um legado concreto e duradouro da Rio+20.
Eles nos ajudarão a implementar a nossa visão em todas as regiões.
Mais de 700 compromissos foram registrados.
Entre eles estão os compromissos em matéria de transporte sustentável de oito bancos multilaterais, liderados pelo Banco Asiático de Desenvolvimento.
Outro grande destaque dos compromissos é a Energia Sustentável para Todos.
Energia é o fio dourado que liga inclusão, desenvolvimento social e proteção ambiental.
Mais de um bilhão de pessoas serão beneficiadas de compromissos públicos e privados para uma Energia Sustentável para Todos nas próximas duas décadas.
Mais de 50 governos estão avançando, com outros se unindo todos os dias.
Mas os compromissos do Rio não param por aí.
A Iniciativa de Sustentabilidade na Educação Superior atraiu centenas de apoiadores e compromissos de 250 universidades em cerca de 50 países.
Esta iniciativa é transformadora, de alcance global e poderá chegar a milhares de graduados das universidades e escolas de negócios.
E não nos esqueçamos das 64 milhões de ações individuais trazidas pela iniciativa “Ações Voluntárias Contam”, liderada pelos Voluntários das Nações Unidas.
Esta é uma prova notável do compromisso crescente e de base.
É mais uma demonstração de como a Rio+20 está mobilizando um movimento global para a mudança.
A Rio+20 foi também a primeira Conferência da ONU que se concentrou em atrair as pessoas em todo o mundo por meio das redes sociais.
Centenas de milhões de pessoas de todo o mundo se uniram à conversa ‘online’ para compartilhar suas visões para o futuro e exigir ação.
E a conversa continuará.
O mundo está assistindo e manterá a todos nós como responsáveis perante os compromissos assumidos no Rio de Janeiro.
Excelências,
Imediatamente antes da Rio+20, o Governo do Brasil ajudou a organizar a Cúpula dos Povos.
Eu conheci os seus representantes no último dia da Conferência, e escutei suas preocupações.
A Cúpula dos Povos nos lembra que a Carta das Nações Unidas começa com as palavras “Nós os povos”.
O desenvolvimento sustentável é sobre pessoas – o bem-estar dos indivíduos, famílias, comunidades e nações.
A Rio+20 nos deu uma nova chance.
Não foi um fim, mas um novo começo – um marco em uma jornada essencial.
A Rio+20 reafirmou princípios essenciais para o desenvolvimento sustentável.
Deu-nos avanços em uma série de questões setoriais e institucionais.
E trouxe novos compromissos a partir de uma ampla gama de parceiros.
Excelências, Senhoras e Senhores,
Agora começa o trabalho.
Nós temos as ferramentas. Vamos usá-las para tornar este mundo sustentável para todos.
Obrigado.”