Quantas vezes na vida você já perguntou: Como se escreve tal palavra mesmo? É com z ou com s? Tem acento? (assim mesmo sem circunflexo, pois o chapeuzinho só vai na cabeça antes de plural), tem hífen?

 

Essas dúvidas sempre existiram e vão continuar existindo, só que o novo acordo ortográfico, que de novo não tem nada, pois começou a ser elaborado há 29 anos, mas só entrou completamente em vigor em 2016, ao invés de ajudar, parece ter atrapalhado ainda mais a escrita.

Quer um bom exemplo? Quando uma criança está fazendo a lição de casa e tem uma dúvida, pergunta para quem? Os pais, é claro. Só que a grande maioria desses pais foi educada na transição do acordo ortográfico, portanto cresceram com as mesmas dúvidas.

Ai a solução é dar um “Google” e eis que a quantidade de explicações é tão extensa, muitas citando outras regras gramaticais, que geralmente a dúvida não é esclarecida e ainda aumenta.

Essas dúvidas sempre existiram e vão continuar existindo, só que o novo acordo ortográfico, que de novo não tem nada, pois começou a ser elaborado há 29 anos...

Claro que em educação nada acontece em curto espaço de tempo, mas a demora e o sentimento de que o Acordo Ortográfico dos países de Língua Portuguesa se tornou uma nau sem rumo, ou um barquinho de papel, está criando gerações com grave Déficit de Escrita, como alerta o professor Nelson Valente em outro artigo.

Outro fator relevante é a importância cultural que a língua de um país tem, como escreve na sequência o professor Nelson Valente.

Quando os jovens são chamados aos concursos públicos, o que, infelizmente, está ocorrendo com frequência cada vez maior, a falta de familiaridade com a norma culta da língua tem levado a resultados desastrosos, como assinalam os famosos Exames de Ordem da OAB.

As reprovações acontecem em massa (às vezes o índice é de 80%). Lê-se pouco e escreve-se mal, o resultado só pode mesmo ser deprimente. Isso infelizmente alcança também os exames para o magistério. É fácil imaginar o que ocorre quando o indivíduo se expressa verbalmente, em que as agressões ao vernáculo doem em nossos ouvidos.

O português brasileiro precisa ser reconhecido como uma nova língua. E isso é uma decisão política. A língua é uma força biológica: não se pode modificá-la com uma decisão política.

É preciso dizer, com todas as palavras, em alto e bom som: o português brasileiro é uma língua e o português europeu é outra. Muito aparentadas, muito familiares, mas diferentes. Já existe outro sistema linguístico totalmente diferente do português lusitano no português falado hoje no Brasil.

Essas dúvidas sempre existiram e vão continuar existindo, só que o novo acordo ortográfico, que de novo não tem nada, pois começou a ser elaborado há 29 anos...

Sabemos que 75% da população brasileira é analfabeta funcional. São 218 milhões de pessoas e, entre elas, estão nossos docentes de língua portuguesa. Não vamos nos iludir.

O Brasil não tem tradicionalmente uma política linguística. A difusão do português brasileiro no exterior ocorre quase por inércia, mais pela importância que o Brasil vem assumindo geograficamente, geopoliticamente e economicamente. Portugal, ao contrário, tem uma política linguística, tem o Instituto Camões, com mais de mil professores espalhados pelo mundo todo, enquanto o Brasil tem 40 leitorados. Cria-se aí, já, uma diferença.

Nós que tínhamos de ter uma política linguística mais agressiva, mas temos uma posição de colonizados, de que, se Portugal já está lá, não precisamos ir. Precisamos, sim.

Nós somos 90% de quem fala português no mundo e somos a 7ª economia mundial. Portugal, ao contrário, está no fundo do poço, com essa crise horrível que acontece por lá. Nós que temos de investir e brigar pelo nosso espaço, porque as pessoas de fato querem aproveitar as oportunidades que nós oferecemos.

Não dá para impor uma língua de uma hora para outra a um povo. O padrão da língua no Brasil deve ser a língua falada pela maioria da população brasileira contemporânea, que é o português brasileiro.

A língua geral brasileira foi proibida no Brasil no século 18 pelo Marquês de Pombal, dirigente de Portugal durante o reinado de José I, e ficamos com um saldo de 300 anos sem educação.

Se não tivesse acontecido isso, talvez hoje seríamos como os paraguaios, que falam espanhol e guarani — este também uma invenção dos padres jesuítas como uma língua geral, muito parecida com a língua geral brasileira, com base no tupi. Por uma política autoritária, repressora, foi proibido ensinar e falar qualquer coisa no Brasil que não fosse o português.

O que ocorre com o dito Novo Acordo Ortográfico é que na verdade Portugal “colonizador” quer colonizar a língua portuguesa.

Veja o exemplo: A antiga Iugoslávia se fragmentou em seis pequenos países e a língua que, então era considerada uma só, o servo-croata, agora se chama bósnio, croata, sérvio, montenegrino… Mas, para esses nomes aparecerem, ocorreu uma guerra horrorosa, com muitas mortes, uma coisa terrível.

Essas dúvidas sempre existiram e vão continuar existindo, só que o novo acordo ortográfico, que de novo não tem nada, pois começou a ser elaborado há 29 anos...

Nos Bálcãs, os sérvios e os croatas entendem-se. No passado, os que se revoltavam mais ferozmente contra o colonizador haviam estudado na metrópole. Pode-se massacrar uma população conhecendo-se perfeitamente sua língua e sua cultura.

A miscigenação no Brasil foi muito mais intensa e, evidentemente, a miscigenação linguística também. O português foi língua minoritária no Brasil durante todo o período colonial. Falava-se como língua geral o tupi e nossa população, até a época da Independência, era 75% mestiça.

Atualmente, o que ocorre é um conflito entre português de Portugal e português brasileiro nas escolas. Pois quando um aluno diz que não sabe português, na verdade, está dizendo que não sabe as normas da gramática do português ensinado na escola.

Uma pessoa que diz que não sabe português é porque acha que saber português é saber o que é uma oração subordinada substantiva objetiva direta completiva nominal reduzida.

E isso, quase ninguém sabe. Nem mesmo os professores de português formados e na ativa já há bastante tempo. Então, temos aí um grande imbróglio para resolver, a formação docente.

Não adianta tentar resolver o que acontece na escola, sem resolver primeiro as questões que envolvem a formação dos professores, e claro, as condições de trabalho das pessoas, para que elas não sejam espancadas em praça pública.

Aí vêm uns idiotas que querem realmente reformular a língua, botar tudo com “x”, com dois “s”, com “z”, com uma série de questões que não têm nada a ver, sem nenhuma fundamentação teórica que as sustente.

A implementação do dito Acordo é simplesmente uma bagunça, é o caos linguístico; é uma desgraça! É a bancarrota da Língua! E a consequência é o caos linguístico que se está verificando nas escolas, na comunicação social, falada/escrita/ouvida e lida.

Para que não ocorra um desacordo na nossa língua, quem sabe daqui a alguns anos apaguemos o “português” e fique só o “brasileiro”.

 

Instituto Universitário de Lisboa

ISCTE  https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/artigos/rubricas/acordo/ha-quem-queira-ficar-com-a-nossa-lingua-e-quem-por-ca-aplauda/3876

 

“Nelson Valente, um professor universitário e brasileiro, admirador do antigo Presidente Quadros e que recomenda ao atual, Jair Bolsonaro, que tenha «autoridade, capacidade de trabalho e coragem e rapidez nas decisões», surgiu no prestigiado “Jornal de Letras” do Brasil, há cerca de um mês, num artigo intitulado “(Des)Acordo Ortográfico”, a defender a autonomia do brasileiro.

Cito: «O português brasileiro precisa de ser reconhecido como uma nova língua. E isso é uma decisão política (…) É preciso dizer, com todas as palavras, alto e bom som: o português brasileiro é uma língua e o português europeu é outra». Sublinho o termo europeu, que exclui deliberadamente o português em África e em Timor, mas adiante.”

Essas dúvidas sempre existiram e vão continuar existindo, só que o novo acordo ortográfico, que de novo não tem nada, pois começou a ser elaborado há 29 anos...

“É também verdade que o da Cultura de Bolsonaro pôs em causa o Acordo com argumentos semelhantes, embora os de Nelson Valente sejam bem mais estruturados. Nestas posições abunda o ultranacionalismo, mas falta a verdade.

Basta atentar na frase que citei para se verificar que a língua é a mesma; não há nessa frase nada que não compreendamos ou que não possamos escrever. Neste caso, a ortografia é também a mesma, situação, aliás, semelhante à dos cronistas que avisam que seguem a ortografia antiga.

Se virem com atenção, em muitos textos tal é indiferente porque não mudariam uma letra. Na realidade o que muda é 2%. Argumentar com a existência de contradições não vale. Há muitas; até incongruências. Mas quem conhece bem a evolução da ortografia sabe que sempre houve montanhas de contradições e incongruências. A perfeição, sabe-se, é tão impossível como agradar a todos.” 

Todos concordavam que seria melhor para a comunidade lusófona que houvesse o Acordo Ortográfico, pois o fato ensejaria uma busca oficialização da língua portuguesa em organismos internacionais, a partir da ONU. Ledo engano. O que tem ocorrido até aqui é um grande “desacordo”.

 

O feminino de maestro

 

https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/aberturas/a-repeticao-da-conjuncao-e-o-substantivo-maestrina-dez-anos-de-acordo-ortografico-o-nacionalismo-lin/2450

 

“Expresso de 18/05/2019, que fica transcrito igualmente na rubrica Acordo Ortográfico. Em causa estão as declarações do jornalista e escritor brasileiro Nelson Valente, que, tecendo críticas ao AO, considera ter chegado o momento de o português brasileiro «ser reconhecido como uma nova língua».”

 

Já se passaram dez anos e ninguém aprendeu as regras. A imprensa adotou, mas ninguém consegue entender e a população não sabe usar. Queremos estudar formas de simplificar isso, ao invés de gastar tempo com algo que nunca se vai aprender.

Ainda tem todo esse gasto. É melhor pegar esse dinheiro e investir em escola, em merenda. Deixa os livros didáticos como estão.

E não é só livro didático, isso vai mexer em toda a literatura. Tudo fica desatualizado e isso tem um custo caríssimo para o país: bilhões de reais.  O governo precisa arcar com mais gastos para atualização de livros?

 

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