Espírito Natalino 3Rosângela Barreto (Rose)

 

Ao aproximar-se o Natal, é comum se ouvir a expressão “espírito natalino”. Não sei bem o que esta expressão significa, mas parece apontar para um sentimento de bondade um tanto genérica, para um ar festivo recheado de presentes e de consumo, para o encontro festivo de familiares e parentes, para gestos episódicos de sensibilidade para com o próximo carente. Até pessoas que não reconhecem particular valor no nascimento de Jesus de Nazaré entram no “espírito natalino” e dele participam!

Para nós cristãos, “espírito natalino” é sinônimo de “advento”, isto é, celebração de um acontecimento radicalmente singular que marcou a história dos homens: Deus que se encarnou na pessoa de Jesus Cristo.

Deus que, antes de querer nos elevar à grandeza divina, assume, torna sua a natureza, a existência humana! E a redime, isto é, a reconduz à sua nobreza e grandeza originais. No Natal, recordamos e celebramos este acontecimento.

Como é e como deve ser a existência humana se ela é tão nobre e tão grande de merecer ser assumida e redimida por Deus? A caminhada de resposta a esta pergunta, na qual estamos pessoal e comunitariamente engajados, constitui a “vida cristã”. Esta vida nunca está feita de antemão, mas é sempre um empenho, um caminho, uma luta para que ela aconteça em nossa existência.

É este engajamento na “vida cristã” que nos faz recordar e celebrar o Natal, pois celebrar e recordar significam ter renovada consciência da ”visita” de Deus e renovado compromisso de acolhê-la e recolocá-la no coração.

Natal é um evento que não é passado. Ele tem sim uma face (a cronológica) ligada ao passado, ma ele vai além do cronológico: é doação livre e amorosa de uma presença que está além e é senhora do tempo: Deus.

Muito mais que cronológico, o Natal é histórico, isto é, presença permanente e eficaz do divino no humano, presença que molda pessoas, povos, culturas e civilizações.

Esta presença se doou na pessoa de Jesus Cristo, pessoa toda especial que se manifestou a nós como aquele que é humano como nós e divino como Deus, aquele que é ponto de partida e de chegada de toda a história.

Celebrar o Natal é celebrar com otimismo o fato de sermos seres humanos. É assumir o viver humano com um viver no qual é possível fazer uma história grande e nobre, divina. Este otimismo embutido no Natal talvez explique uma face surpreendente: a alegria, uma alegria generalizada que contamina a todos, que podemos definir como espírito natalino!

É interessante observar que dizer “vida cristã” e “espírito natalino” é o mesmo, pois a palavra espírito significa aquela característica própria do ser humano de ter que viver conscientemente a vida que ele mesmo é, e natalino significa a vontade que isso aconteça em sintonia com o “advento” de Deus na existência humana por Jesus Cristo!

Por isso, “espírito natalino”, para nós cristãos, é sempre uma busca, um se dispor novo ao encontro com Jesus Cristo e com seu santo Evangelho, encontro capaz de transformar aos poucos nossa existência, tornando-a de fato fonte mais capaz de bondade real e inteligente, mais atenta e sensível aos outros, mais sobriamente alegre e jovial.

A expressão “espírito natalino”, como é usualmente empregada, talvez ainda seja eco do pouco que restou de uma herança única e preciosa. E o aborrecimento e tédio que essa expressão provoca em não poucas pessoas talvez seja a saudade reprimida de um “advento” alvissareiro do qual a experiência religiosa e cristã tem consciência e é testemunha.

Dom Fernando Mason

 

Rosângela Barreto é formada em Comunicação e Letras, exerce a função de Executiva de Contas em Recuros Humanos há 24 anos, nas horas vagas adora cozinhar e inventar pratos diferentes

 

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