Nelson Valente - Escritor, Jornalista e Professor Universitário
Nelson Valente – Escritor, Jornalista e Professor Universitário

GIBANET: Quais as suas propostas na área educacional? Saúde? Cultura? Segurança? Indústria das multas? Plano diretor? Poluição sonora?

Nelson Valente: – “ Nossas escolas públicas têm bibliotecas? Não. Têm laboratórios equipados? Não. A distorção idade-série está sob controle? Não. Reduzimos os fenômenos da evasão e da repetência? Não. Há iniciação científica nas escolas? Não. Os índices de leitura estão crescendo? Não. Os livros didáticos distribuídos gratuitamente são bem escolhidos e bem distribuídos? Não. Nossas escolas têm segurança? Não. E muito mais poderia ser lembrado. Até quando?

Ninguém vê o óbvio: a pirâmide está invertida. A maior prova disso é o abandono da primeira infância. É nela que o Brasil começa, e seu abandono é a maior das ameaças à pirâmide invertida que caracteriza nosso País.

Mesmo a educação é um exemplo do desequilíbrio da pirâmide invertida. O Brasil dá mais ênfase ao topo, o ensino superior, do que à base, o ensino fundamental. O resultado é outra manifestação de instabilidade: a qualidade do ensino superior vem sendo puxada para baixo por causa da má qualidade do ensino médio; e este também vem perdendo qualidade por causa da piora no ensino fundamental.

Outra insensatez é a incompetência para enfrentar o drama do magistério. Os professores são mal formados e pessimamente remunerados.

Como pretender, assim, uma educação de qualidade? Os cursos de formação de professores padecem de um abissal anacronismo. Colocar um computador na mão de quem não sabe manejá-lo significa muito pouco. Pensando bem: desde que essas máquinas terríveis entraram no cotidiano das escolas, qual foi o aperfeiçoamento dos conteúdos?.

Ultimamente, são raras as novas escolas construídas, pelo prefeito da cidade de São Paulo. Parece que houve um certo cansaço das autoridades em relação ao assunto.

Era o melhor caminho para alcançar outra conquista necessária: o desejado tempo integral, que é uma característica básica de todo e qualquer país desenvolvido. Quando se sabe que, entre nós, no ensino médio, cheio de furos, as aulas diárias não passam de quatro horas,
já se vê o tamanho do fosso.

E tem mais um óbice: cursos médios oficiais estão sendo ministrados em escolas municipais, por empréstimo, o que dá bem a dimensão da sua ausência de prioridade.

GIBANET: Pacto municipal de educação?

Nelson Valente: – “Resolvi propor um “PACTO MUNCIPAL DE EDUCAÇÃO”, onde procurei sintetizar o que poderia ser um programa de governo para o legislativo a partir de necessidades mais imediatas do educador paulistano, a saber:

– Pagar condignamente a professores e especialistas,fator essencial para se alcançar a qualidade de ensino preconizada pela Constituição.

– Atribuir recursos generosos à Educação de Jovens e Adultos, a fim de erradicar o analfabetismo até em 2015.

– Utilizar na educação, inclusive a distância, os modernos recursos da tecnologia, como rádio, televisão, computador e satélite (este custou 250 milhões de dólares ao povo brasileiro e não está sendo usado para educação, embora disponha de capacidade ociosa).

– Dar prioridade à educação pré-escolar, com um amplo programa de assistência pedagógica e médico-odontológico. Nessa fase, a nutrição é fundamental para formar adequadamente o cérebro das nossas crianças.

– Reduzir os índices de evasão e repetência no ensino fundamental, criando novos estímulos para a permanência das crianças nas escolas urbanas. E acabar com a praga do absenteísmo, que leva 4 milhões de crianças na faixa dos 7 aos 14 anos de idade e não frequentar escolas.

– Aproximar o ensino médio do mundo do trabalho, abrindo chances de estágio nas empresas brasileiras, adotando-se o moderno conceito de politecnia, com as sondagens das aptidões feitas pelos Orientadores Educacionais em relação ao aluno e encaminhando-o ao mercado de trabalho.

– Garantir o ensino gratuito a todos os estudantes que demonstrem falta ou insuficiência de recursos, inclusive distribuindo bolsas para estimular a sua formação.

– Reformar profundamente o ensino superior, exigindo a qualidade reclamada pela sociedade paulistana e brasileira.

– Fazer da educação uma prioridade efetiva na atribuição de recursos financeiros, indo além dos limites estabelecidos pela Constituição de 1988, como atestado de uma decisão política de apoio efetivo.

– Reciclagem permanente dos professores em todos os níveis de ensino em didática e prática de Ensino.

– Já não era sem tempo. Depois de tantas promessas parece que chegou a vez de modificar as condições de as condições de vida dos profissionais de educação, para que finalmente corrija o que talvez seja a maior deficiência na educação brasileira: a capacitação e o aperfeiçoamento do nosso professorado.

– O retorno da Cartilha ‘Caminho Suave’, da educadora paulista, Branca Alves de Lima, que alfabetizou 48 milhões de brasileiros.

Em São Paulo, a canoa da educação parece furada, por falta de uma clara vontade política e por uma deficiente mentalidade que nela ainda não enxergou o futuro.

Além das questões estruturais, existem problemas concretos, como a valorização do professor, que precisa ganhar mais e deve ser cobrado pelos resultados. É por isso que estamos longe de uma perspectiva favorável.

Os debates se sucedem e nem sempre as teses são renovadas. Repetem-se conceitos e reclamações, como se a educação em São Paulo fosse mesmo um imenso e monótono realejo.

Democratização do ensino não é baixar o nível de ensino na escola (igualando a todos na ignorância), mas levar o bom ensino a todos, para que cada um chegue aonde quer e pode chegar”.

GIBANET: Saúde?

Nelson Valente: – “A qualidade do atendimento em postos e hospitais públicos é hoje o maior motivo de insatisfação na capital.

A desospitalização é uma tendência mundial. O atendimento domiciliar equivale ao prestado pelo hospital, com a vantagem de ser feito no ambiente da pessoa e de ela, aí, receber todo o carinho e as atenções de seus entes mais queridos.

Uma pessoa da família é especialmente treinada para prestar o atendimento necessário ao doente, sendo responsável por cuidar dele durante o tratamento. O tratamento domiciliar oferece muitas vantagens tanto aos doentes quanto às famílias e, mesmo, à comunidade. Assim, o paciente, quando está em casa, não corre o risco de contrair uma infecção hospitalar.

No que diz respeito aos hospitais, com a desospitalização existe uma diminuição da média de permanência dos doentes no ambiente hospitalar e o consequente aumento do número de leitos oferecidos à comunidade (indispensáveis em casos cirúrgicos, quadros clínicos agudos e/ou de maior gravidade)”.

GIBANET: Ecodesenvolvimento?

Nelson Valente: – “ Educação Ambiental é uma nova forma de educar, ampla e significativa (uma “meta-educação”). Tem como ponto de partida e de chegada o próprio meio ambiente e, como preocupação maior, a melhor qualidade de vida. A Educação Ambiental, se bem aplicada, leva o estudante a uma real integração com o ambiente onde vive, que, na realidade, é a continuação do seu próprio corpo e, como tal, tem que ser conhecida, respeitada e preservada.

Será imprescindível, de agora em diante, a inclusão do tema educação ambiental nos currículos das Escolas Municipais”.

GIBANET: Cultura?

Nelson Valente: – “ Hoje, cultura merece o respeito das nações pós-industrializadas. É pensada, como ocorre nos Estados Unidos, até como próspero negócio, onde circulam bilhões de dólares. Como seria natural, no mundo cultural também se busca o aumento da eficiência, o banimento do amadorismo, enfim a qualidade total. Para que isso ocorra, são necessários dois pré-requisitos essenciais: a sensibilização humana e a capacitação técnica.

Os especialistas em marketing cultural proclamam que os empresários da área têm essas duas qualificações, o que infelizmente nem sempre é verdadeiro. Há filmes abaixo da crítica e peças teatrais que jamais deveriam ter sido montadas. Essas obras “geniais” muitas vezes contam com expressivos recursos de patrocínio oficial, que costuma premiar os filhotes costumeiros. O curioso é que se reclama do montante de recursos disponíveis para o financiamento de tais produções.

Como não existe uma política cultural digna do nome, a premiação é feita por critérios estritamente pessoais, muitas vezes aquinhoando elementos conhecidos das “panelas” que se estabeleceram para disputar esse tipo de paternalismo.

Se o cinema é atendido, não sobra nada para o teatro. Se há recurso para o balé, falta para a música, para o esporte e lazer. E o patrimônio histórico fica abandonado, como se o país desprezasse a sua memória.

Como aplicar os paradigmas de cidadania a esse outro Brasil que não tem acesso à escola, aos museus, às bibliotecas e a todos os demais
equipamentos culturais que marcam uma sociedade desenvolvida?”.

GIBANET: Segurança?

Nelson Valente: – “Os ASSALTOS são sucessivos, não se tem garantia de nada, mata-se por qualquer bobagem. A DROGA comanda as ações desses celerados.

Ninguém pode condenar a ideia de se ter penitenciárias com o rigor desejado, nesse eufemismo da “segurança máxima”. O que pleiteiam os educadores e os homens de bom senso é a solução de base, ou seja, escola para todos – educação máxima – a fim de que não se tenha de chorar a impiedosa ação dos marginais, hoje os verdadeiros donos das ruas e favelas das nossas grandes metrópoles.

Estão fazendo vestibular para se tornar os grandes assaltantes de amanhã. Sob as vistas complacentes das autoridades e até mesmo de
muita gente fina da nossa melhor sociedade, que acha tudo isso natural numa democracia.

Não pode haver indiferença do Estado, enquanto cresce essa lamentável criminalidade. Polícia é um ramo da administração pública, encarregada de manter a ordem e a segurança pública, no interesse do indivíduo e do Estado, pela vigilância e repressão ao crime. Se o cidadão fica responsável pela sua própria defesa, fazendo justiça por conta própria, com a privatização do poder de polícia, corremos o risco de uma guerra civil. Não é isso que se deseja – e certamente a solução passa por uma educação de boa qualidade estendida a todos.

Os próprios GOVERNANTES BRASILEIROS reconhecem que, em virtude da incidência de muitos crimes, os governos são obrigados a dedicar grandes somas às polícia e ao sistema judiciário. Melhor fariam, é claro, se pudessem colocar esses recursos para melhorar o ATENDIMENTO EDUCACIONAL, oferecendo uma solução de raiz, que falta ao Brasil”.

GIBANET: Indústria das multas?

Nelson Valente: – “Parece que a Prefeitura quer fazer um “orçamento paralelo” só com multas. Não dá para aceitar. Esse dinheiro não volta para a população.

A Prefeitura pretende aumentar em 30% a arrecadação do município com multas de trânsito. O orçamento para 2012, que foi  encaminhado à Câmara Municipal, prevê que as infrações rendam R$ 832 milhões aos cofres públicos. A previsão é de R$ 638,9 milhões. Hoje, quase tudo o que a CET recebe é para pagar salários e sua estrutura. A Prefeitura precisa investir em novos projetos. Os semáforos e a sinalização estão sucateados. Uma vergonha”.

GIBANET: Plano diretor?

Nelson Valente: – “Estou aguardando ansiosamente as discussões do novo Plano Diretor da cidade, que devem acontecer em 2012 e envolver o poder público, o setor privado e a sociedade civil.

Porque, os investimentos foram, no entanto, mal distribuídos, e o resultado é que algumas regiões caras ao mercado imobiliário já estão completamente saturadas e outras a caminho da saturação. Nada menos do que oito dos 96 distritos da cidade alcançaram, já em 2009, o limite de verticalização permitido pelo atual Plano Diretor, em vigor desde 2002”.

GIBANET: Poluição sonora?

Nelson Valente: – “Na cidade de São Paulo, não deveria permitir tantos danos da poluição sonora nos insuficientes esforços na educação e saúde. Alguma coisa deveria ser feita nas nossas cidades excessivamente barulhentas, hoje com quase 80% da população. As providências seriam: seguir a lei e melhorá-la, diminuir poluição das fontes ruidoras (veículos automotores, aparelhos industriais e eletrodomésticos, etc.) É necessário reeducar as pessoas a viver em comunidade, porque, a nação, se não é capaz de reparar os danos da poluição sonora, poderia pelo menos preveni-los.

A OMS adverte que a América Latina está cada vez mais exposta ao barulho. Os altos níveis de barulho também são um problema para as grandes metrópoles no Brasil. Segundo o Médico Neurofisiologista, Fernando Pimentel Souza,membro do Instituto de Pesquisa do Cérebro, UNESCO, Paris, anualmente são perdidos mais de 600.000 anos potenciais de vida sadia por culpa de doenças envolvendo o excesso de barulho.Além disso, a mania dos brasileiros mais jovens de ouvir música alta faz com que quase 2% dos habitantes entre sete e 19 anos já tenham perdido parte de sua capacidade auditiva. Mas o barulho também está por trás dos graves distúrbios do sono que afetam 2% dos paulistanos e de 3% dos casos de _tinnitus_ – um fenômeno de personalidade perceptiva caracterizado por contínuos assobios nos ouvidos – que afetam aos cidadãos brasileiros que vivem nas grandes cidades.

Com isso, é preciso tomar consciência sobre o assunto e denunciar todos aqueles que infringem a lei e colocam em risco a nossa saúde. Em São Paulo, a poluição sonora e o estresse auditivo são a terceira causa de maior incidência de doenças do trabalho, só atrás das devido a agrotóxicos e doenças articulares. Inúmeros trabalhadores vêm-se prejudicados no sono e às voltas com fadiga, redução de produtividade, aumento dos acidentes e de consultas médicas, falta ao trabalho e problemas de relacionamento social e familiar.

A poluição química do ar, da água e da terra deixa muitos traços visíveis de contaminação. Muitas doenças e mortes devido a alterações do meio podem ser identificadas por qualquer pessoa. Mas, a poluição sonora, mesmo em níveis exagerados, produz efeitos imediatos moderados. Seus efeitos mais graves vão se implantando com o tempo, como a surdez, que não tarda a se acompanhar às vezes de desesperadores desequilíbrios psíquicos e de doenças físicas degenerativas.

Pelo nível de ruído das nossas cidades e casas, a maioria dos habitantes deve estar sob estresse prolongado, surgindo ou agravando arterioscleroses, problemas de coração e de doenças infecciosas, fazendo inúteis dietas e acabando precocemente com suas vidas. A ativação permanente do sistema nervoso simpático do morador da metrópole pode condicionar negativamente a sua atuação com as agressões. Estamos no limite.

Muitas pessoas procuram se livrar dessa reação, por tornar-se desagradável, (por exemplo duma palpitação), usando drogas (tranquilizantes ou cigarro) para bloqueá-la.O nível de ruído em nosso ambiente urbano está quase sempre acima dos limites do
equilibrio, e abre caminho para estresses crônicos.

Certas áreas do cérebro acabam perdendo a sensibilidade a neurotransmissores, rompendo o delicado mecanismo de controle hormonal.
Esse processo aparece também no envelhecimento normal e ataca os mais jovens, que se tornam prematuramente velhos num ambiente estressante.

Os efeitos no sono não são menos importantes pela sua nobre função.Os países avançados, ao contrário, mantém o controle da poluição sonora para não prejudicar as atividades psicológicas, mental e física, e seus habitantes, beneficiados, atingiram um nível mais refinado. Mesmo assim esse tipo de poluição subiu para a terceira prioridade ecológica para a próxima década, pela Organização Mundial de Saúde.

No Brasil, apesar de ter normas para evitar o barulho prejudicial, sejam elas severas ou não, quase ninguém as cumpre, e o problema persiste na maioria dos espaços públicos das metrópoles. Música alta, construções, tráfego de veículos, ofertas de produtos de lojas através de alto-falantes e até a pregação religiosa – que costuma contar com potentes equipamentos de som- fazem parte do panorama em
cidades como Rio de Janeiro, São Paulo. Brasília, Blumenau, Curitiba, etc “.

Quem é Nelson Valente?

NELSON VALENTE é jornalista, professor universitário e escritor. Pesquisador nas áreas de psicanálise, comunicação, educação e semiótica. É mestre em Comunicação e Mercado e doutor em Comunicação e Artes. O autor também é especialista em Legislação Educacional, Psicanálise,Teoria da Comunicação e Tecnologia Educacional e já publicou 16 (dezesseis) livros sobre o ex-presidente Jânio Quadros e outros sobre educação, parapsicologia, psicanálise e semiótica, no total de 68 (sessenta e oito) livros e alguns no prelo. Ex-presidente da Academia Blumenauense de Letras/ALB, Acadêmico. Membro da Sociedade dos Escritores de Blumenau/SEB

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