(*) Nelson Valente
NOVA FUNÇÃO
Presidente, Jânio Quadros vai ao Rio abrir uma exposição de pintores argentinos no Museu de Arte Moderna. Compromissos em Brasília, porém, fizeram com que Jânio atrasasse sua chegada. Duas horas depois do previsto, o Presidente chega ao museu.
Cerimônia concluída, na saída do Museu um funcionário consegue driblar a segurança e se aproxima de Jânio. Humildemente, cumprimenta o Presidente, pede um autógrafo e emenda a explicação para o gesto:
– Presidente, preciso do autógrafo para me justificar em casa. O senhor atrasou muito e passei da hora do almoço em casa. A patroa não vai acreditar que eu estava trabalhando. Ela anda muito desconfiada. Só o senhor pode me ajudar.
Jânio deu uma gargalhada, autografou uma folha de caderno e, novamente, com o semblante sério, fez a brincadeira:
– Tudo bem, compreendo seu desespero. Concordo que é preciso tratar bem as mulheres. Mas é a primeira vez na vida que sirvo de relógio de ponto.
Ameaça
Quando se preparava para uma das suas visitas a São Paulo, Jânio Quadros recebeu uma série de telegramas denunciando o preparo de atentados contra sua pessoa. Depois de tomar conhecimento das denúncias, o Presidente chamou um oficial do seu gabinete e deu a seguinte instrução:
– Procure o General, Chefe da casa Militar, e diga-lhe para que providencie o adiamento da execução.
Políticos astronautas
José Le Senechal, inventor, convidou Jânio Quadros a integrar a tripulação do primeiro disco voador concebido pelo seu engenho e arte. Num atencioso bilhetinho, o Presidente agradeceu a distinção que lhe fora conferida e disse ao inventor, entre outras coisas mais ou menos siderais, o seguinte:
– Já me imagino voando para outros mundos e tenho a convicção de que eles não poderão ser piores do que este em que vivemos.
Acrescentou que uma tal viagem daria prazer não só a ele como a muitos políticos…
Pinel e cadeia
O candidato, Adhemar de Barros, sempre marcava seus comícios numa cidade antes de Jânio Quadros. Certa feita, os dois grupos se encontraram em Mogi-Guacú – SP. Meu pai ( Rafael Orlando Valente) era escrivão de polícia nesta cidade e ademarista roxo e como de costume também fazia discurso em favor do velho Adhemar e contra o candidato Jânio Quadros.
Os janistas da cidade foram ver o comício de Adhemar. O candidato com os punhos fechados, adjetivos enfáticos, gestos agressivos começou a discursar:
– Entre as várias obras que fiz em São Paulo está o Pinel, hospital de loucos.Infelizmente, não foi possível internar todos. Um desses loucos havia escapado e fará comício nesta mesma praça amanhã.
Para delírio do povo (ademarista) a gargalhada era geral.
No dia seguinte, Jânio Quadros é recepcionado na cidade com banda e a famosa música ” Varre ,varre , vassourinha” e as normalistas da cidade empunhavam a vassoura que iria varrer a corrupção numa evolução jamais vista e impressionante. O Cel.Jayme dos Santos relatou tal acontecimento das táticas do candidato Adhemar , após ouvir seguiu para a Praça e dirigindo ao palanque que estava instalado no centro da Praça.
Após alguns segundos de silêncio e com calma faz um relato do velho mundo, conta algumas histórias sobre o período republicano e dá o troco:
– Quando fui governador de São Paulo, construí várias penitenciárias, mas não foi possível trancafiar todos os ladrões. Um escapou e fez um comício aqui mesmo nesta praça ontem.
A gargalhada ultrapassou as cidades circunvizinhas da nossa querida hinterlândia.
Em posição de sentido
O telex do gabinete do Presidente transmitiu:
“Uma mensagem para o Exmo. Sr. Presidente. Posso passar?”
Resposta de JQ: “Pode”
Mensagem:
“Sensibilizado, agradeço a V.Exa, as felicitações pela passagem do meu aniversário. Respeitosas saudações. General Nilo Guerreiro, Comandante da Segunda Região Militar.”
E perguntou o operador do telex:
“Quem recebeu? Foi transmitido pelo sargento Gonçalves.”
JQ, então respondeu pelo telex:
“Obrigado, sargento. É o próprio Presidente. Jânio Quadros.”
E o telex, mais que depressa:
“Muito grato, Excelência. Estou em posição de sentido!” …
Colega
O próprio presidente Jânio Quadros, às vezes transmitia seus bilhetinhos para os ministros por meio do aparelho de Telex que mandou instalar em seu gabinete, ligado diretamente com os Ministérios em Brasília e no Rio de Janeiro. Ele mesmo datilografava os “memorandos”.
Transmitiu ele um bilhete para um ministro e na mesma hora recebeu a seguinte resposta, pelo telex:
“Prezado colega. Não há mais ninguém aqui.”
Ao que o presidente respondeu:
“Obrigado, colega. Jânio Quadros.”
Do outro lado do fio, porém, o outro não se perturbou:
“De nada. Às ordens, John Kennedy…”
(*) é professor universitário, jornalista, escritor e amigo inestimável
Nos sete meses de governo, Jânio Quadros despachou cerca de cinco mil "bilhetinhos", que foram combatidos, mas temidos e respeitados. Neles, se observa o humano e o sentido de humor com que este político inimitável abordava cada assunto. Muito se fala de Jânio: histórias, anedotas, mentiras e verdades, já preencheram páginas dos maiores periódicos de nosso País. O lado caricato de Jânio tão bem mostrado nesta obra, não denigre sua imagem, ao contrário, mostra-nos uma lição de como devemos enfrentar cada situação que nos apresenta a própria vida.
Giba, super interessante essas particularidades de Jânio, adoroooo !
Parabéns ao Nelson !
Gilberto, gostei muito da sua postagem. Foi muito bom relembrar o Jânio e os seus "foras". Beijos. Obrigada.