(*) Nelson Valente

Lecionava Português e Geografia no Colégio Dante Alighieri. Bom professor, mas exigente: os cadernos dos alunos tinham de estar sempre em dia e bem cuidados. Certa vez, um estudante apresentou um caderno rabiscado e rasurado. O professor perdeu a paciência:

– Retire-se.

O aluno embaraçado fez menção de sair pela porta.

O professor atalhou-o, ríspido:

– Pela janela. O senhor não é digno de cruzar essa porta.

Louco quanto devia…
Um jornalista do Norte, em crônica, escreveu que Jânio, pelo que pode observar, era feio e meio louco.
Um ¨bilhetinho¨não se fez esperar para o cronista:

¨Informo Ilustre Jornalista não ser tão feio quanto pareço nem tão louco quanto devia…
J.Quadros
Presidente da República

Beleza

Ao passar pelo Maranhão, ouviu a crítica segundo a qual era muito feio para ser Presidente da República. Jânio Quadros explicou à eleitora:

– Mas minha senhora, nós não estamos num concurso de beleza.

Imperador

Jânio Quadros caminhava pelos corredores do Palácio do Planalto quando foi abordado por um auxiliar, dos mais bajuladores.
O funcionário começou a fazer comentários sobre Napoleão Bonaparte, tentando criar uma semelhança entre o imperador francês e o Presidente.
Incomodado, Jânio deu logo o corte:

– Por falar em Napoleão, onde será que deixei meu cavalo branco?

Opinião importante

Jânio Quadros em uma de suas viagens a Londres, para um turismo de observação (projetos especiais para a cidade de São Paulo, ex.: ônibus, obras e garagens). Retorna ao Brasil com a barba crescida semelhante a usada pelo presidente norte-americano Abraham Lincoln, a quem sempre admirou.
O jornalista da Folha de São Paulo, Paulo Cerciari, elogiou Jânio Quadros:

– Presidente, o senhor fica bem de barba!

Jânio deu alguns passos, parou, pensou e disse:

– O senhor acha? Eloá também gostou. E continuou a caminhar. Não satisfeito, para e complementa:
– Só que a opinião de Eloá é mais importante do que a do senhor.

Boas gargalhadas foram dadas pelos jornalistas que ali estavam a espera do ex-presidente Jânio Quadros.

Intimidades

O Prefeito Jânio Quadros, em 1987, dava entrevistas para os jornalistas sobre a sua administração ( sobre a polêmica dos homossexuais do Teatro Municipal ), quando uma jovem jornalista de um determinado jornal de primeira linha o interrompeu:

– Você é contra os homossexuais? Você vai exonerá-los?

O ex-presidente não gostou de ser tratado de “você” e deu o troco:

– Intimidade gera aborrecimentos e filhos. Com a Senhora não quero ter aborrecimentos e, muito menos filhos. Portanto, exijo que me respeite.

Numa das várias visitas que fez a Jânio Quadros, D. Helder Câmara, teve a ocasião de trocar idéias sobre as relações do Brasil com os países da cortina de ferro. O cordial debate prosseguiu até a análise das vantagens e desvantagens, por exemplo, do comércio do café com aquela parte do mundo. O que levou a Jânio Quadros, com humor, indagar ao cardeal:

– Mas, Eminência, o Vaticano compra café?

Gentileza

Pouco antes do início de uma das reuniões ministeriais foi servido o clássico cafezinho. Jânio Quadros estava sentado à cabeceira da grande mesa, enquanto alguns ministros, ainda de pé, trocavam idéias.
O ministro do Exterior, senador Afonso Arinos, deixou, sem o querer, cair do pires a colherinha do cafezinho.
Jânio Quadros não se dando por achado, levantou-se e, numa atitude elegante, apanhou do chão a colher, devolvendo-a ao ministro.
O ministro Afonso Arinos, perturbado com a gentileza do Presidente, agradeceu, dizendo:

– Vossa Excelência embaraçou-me. Fez-me lembrar aquela história do poderoso imperador, que estava sentado retratado pelo pintor. Este, inadvertidamente, deixou escapar das mãos o pincel. O imperador, imediatamente, levantou-se de onde estava e ergueu, pressurosamente, o pincel do artista.

Jânio Quadros então, redargüiu :

– Foi uma honra para o imperador…

Amigo da onça

O prefeito de Itanhaém enviou a Jânio Quadros um filhote de onça, dizendo ser o bichinho, meigo, mansinho e amigo, ¨apesar de onças¨.
O governador não teve dúvidas: enviou-lhe o seguinte bilhetinho:

¨Prefeito:

Muito grato pelo bicho. Vou estudar os pulos que dá…¨.

Jânio Quadros
Governador

(*) é professor universitário, jornalista, escritor e amigo inestimável

5 thoughts on “JÂNIO É UM LOUCO QUE SE JULGA JÂNIO

  1. Minhas Poesias Irradiantes says:

    Parabéns pelo seu post referente um homem da vida pública do século passado que era tão polêmico para alguns inclusive quanto a umas Leis que ficaram vivas na memória de muitos brasileiros…

  2. Neusa Fiesta says:

    O Jânio Quadros era um gênio, uma inteligência estarrecedora; isso para não dizer de sua ampla, enorme cultura intelectual!
    Aprendi a ler aos quatro anos de idade e, meu amado e falecido pai, todo alegre ao ver como eu lia bem , em tão tenra idade, presenteou-me com uma obra completa do Jânio em VI Volumes – chamada "Curso Prático de Língua Portuguesa e sua Literatura", que guardo até hoje, com imenso carinho…
    Todavia, um dos maiores problemas de J Q foi o alcoolismo…; pena.
    Excelente post, amei ! Grande abraço!

  3. Rose says:

    Giba, vai aqui algumas frases de Jânio que ficaram na história :

    Nesta data e por este instrumento, deixando com o ministro da Justiça as razões do meu ato, renuncio ao mandato de presidente da república."
    – Fonte: "Grandes Líderes" – Nova Cultural
    "Bebo-o porque é líquido, se fosse sólido comê-lo-ia"
    – Nota-se o uso da mesóclise, recurso da língua portuguesa pouco usado no Brasil
    "Desinfeto porque nádegas indevidas se sentaram nela."
    -Eleito prefeito de São Paulo (1985), sobre a cadeira na qual o outro canditado, Fernando Henrique Cardoso, se sentara na véspera das eleições.
    "Mentira! O som não se propaga no vácuo!"
    – Num debate à presidencia, Jânio estava passando um sermão a um presidenciável quando ele interrompeu: "Pode falar, suas palavras entram por um ouvido e saem pelo outro!"
    "Intimidade gera aborrecimentos ou filhos. Como não quero aborrecimentos com a senhora, e muito menos filhos, trate-me por Senhor."
    – Quando interpelado por uma jornalista a respeito de sua opinião sobre os homossexuais e foi chamado de "você".
    Parabéns ao Nelson por ter enriquecido de informações sobre este que alguns consideravam "Louco".
    Bjos aos dois Nelson e Giba !

  4. Silvana Marmo says:

    Olá Giba,
    Jânio Quadros pode ser visto como um dos maiores expoentes do período populista no Brasil. Em menos de uma década, conseguiu eleger-se vereador, prefeito, governador e deputado federal pelo Estado de São Paulo. Em 1960, lançou sua candidatura à presidente prometendo superar as mazelas deixadas pelo governo JK.
    Utilizando a vassoura como símbolo de sua campanha presidencial, insistia em moralizar o cenário político nacional e “varrer” a corrupção do país. Contando com essas premissas, Jânio conseguiu uma expressiva votação, indicando a consolidação do regime democrático no país.
    Para superar o problema da inflação e o visível déficit público, Jânio procurou reduzir a concessão de crédito e congelou o valor do salário mínimo e aprovou uma reforma da política cambial que atendia as demandas dos credores internacionais. Tais medidas pareciam sinalizar um conservadorismo político que aproximou o governo de Jânio Quadros aos interesses do bloco capitalista.
    Em tempo de Guerra Fria, o presidente decidiu retomar as relações com a União Soviética e negou-se a comparecer a um encontro marcado com John Kennedy, então presidente dos Estados Unidos.
    Por não fazer um sólido governo Jânio perdeu seus poderes com a mesma rapidez que ingressou na política.
    Meu carinho

  5. Marcos Vinicius says:

    Categoricamente, Jânio tinha instantaneamente resposta pra tudo, não dizia um palavrão, pelo menos nas entrevistas, não. E hoje em dia se um jornalista aborda um político lá no congresso, recebe até soco na cara.

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