Lino Tavares

 

Eu vivia os meus felizes dez anos de vida, na pequena Arroio dos Ratos, então distrito de São Jerônimo (60 Km de Porto Alegre), quando certa noite, em meados de junho, sonhei que uma fada havia me aparecido, dizendo que eu poderia lhe pedir tudo o que desejasse, que seria atendido.

O que mais passava na cabeça da meninada, naquela época do ano, eram os acontecimentos relacionados com as festas juninas, com suas fogueiras e adereços próprios da ocasião.

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Pensando nisso, devo ter adormecido naquela noite predisposto a sonhar com coisas do gênero, o que deve ter me sugestionado pedir à benfazeja fada que me desse o sol, para eu fazer dele a minha fogueira; a lua, para eu soltar na noite junina como se fosse um balão, além de um punhado de estrelas, para fazer delas o arranjo de bandeirolas de papel, que iriam enfeitar o ambiente da festa.

No dia seguinte, ao cair da tarde, peguei caderno e lápis e escrevi uns versos, inspirados no que havia sonhado, saindo um pequeno poema, que batizei com o nome de “Sonho de Menino”. Mostrei a familiares e amigos, bem como para minha professoras, que me aconselhou a guardar o “poeminha” com carinho,dizendo que, além de representar um lindo sonho de infância, ele poderia figurar mais tarde em um livro de poesias que eu viesse a escrever, que, aliás, nunca escrevi. Embora sem “acertar no alvo”, a professora tinha razão.

Vim a me dar conta disso onze anos depois, quando resolvi musicar o texto, transformando-o na letra de uma marcha-rancho, que compus ao violão, instrumento que eu havia aprendido a tocar “para o gasto” no ano anterior.

A música era sempre muito elogiada nas rodas de amigos onde eu a cantava, motivo pelo qual achei importante mostrá-la a alguém famoso dos meios musicais, para ter uma ideia sobre o real potencial da canção. Para isso, procurei o consagrado compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues, em Porto Alegre, que exercia na época o cargo de presidente da seção regional da UBC – União Brasileira de Compositores.

Pediu-me para cantá-la a capela, o que lhe bastou para captar a melodia e me dizer, sem vacilar, que se tratava de uma bela composição, colocando-se a meu dispor para encaminhá-la para registro, como garantia de direitos autorais.

Claro que aceitei e, um mês depois, já tinha em meu poder o certificado de registro expedido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Quatro anos depois – início da década de 1970 -, inscrevi o meu “Sonho de Menino” no Programa “A Grande Chance”, apresentado por Flávio Cavalcanti na Rede Tupi de Televisão, tendo como intérprete uma cantora chamada Mara Rúbia, moradora do bairro do I.A.P.I., em Porto Alegre, onde nasceu Elis Regina.

No dia da apresentação, faltando cerca de duas horas para o Programa começar, fui informado nos bastidores da emissora de TV que, segundo um telefonema da família, a cantora não poderia comparecer para cantar, devido ao agravamento de uma gripe, que lhe atacara a garganta. Ao saber disso, o pianista Adão Pinheiro, do Conjunto Flamboyant, que fazia o acompanhamento das músicas concorrentes, sugeriu-me que cantasse minha música no lugar da Mara Rúbia, para não perder a inscrição. Mesmo sabendo de minhas limitações, já que não estava ali como cantor e sim como compositor, topei o desafio e, uma vez autorizada a troca de cantores, me dirigi ao ‘camarim’ para’ aguardar minha chamada ao palco das apresentações.

Primeiro a ser chamado, dei o meu recado, com os defeitos próprios de um cantor amador, mas mesmo assim consegui que a música fosse aprovada por cinco dos seis jurados presentes, para passar à próxima fase. De acordo com a regra do programa, o jurado que reprovasse uma música (nota abaixo de 5) teria que justificar o motivo da reprovação. O único que havia feito isso – cujo nome deixo de declinar em respeito à sua memória, já que é falecido – “pisou feio na bola” ao apresentar sua justificativa.

Disse que minha música era um plágio da canção “Bandeira Branca”, famosa marcha carnavalesca composta por Max Nunes,em 1970, e gravada por Dalva de Oliveira. O que esse “soldado único de passo certo” não sabia era que seria desmentido, com prova documental, pelo desconhecido compositor, acerca do que classificara como plágio.

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Autorizado pelo apresentador, exibi no ar o registro da minha composição, que carregava no bolso, e provei a ele que a música Bandeira Branca havia sido composta dois anos depois de a minha ter sido registrada. E falei, em tom de ironia: “nesse caso, o Max Nunes é que deve ter plagiado a minha música por telepatia, já que certamente nunca a ouviu”. Luiz Vieira, o grande compositor de pérolas musicais como “Parto de ternura” e “Menino Passarinho”, integrante do Júri, fez questão de recitar a letra do “Sonho de Menino”, enaltecendo seu conteúdo poético e dizendo que a melodia não possuía um só compasso que se confundisse com os da “Bandeira Branca”. No início da década de 1980, a música foi gravada em compacto simples, no Rio de Janeiro pela Cantora gaúcha Nehite Brandolt e Coro infantil de Juiz de Fora, Minas Gerais.

Neste final de maio de 2014, depois de ter embalado os sonhos de crianças e adultos, ao longo de três décadas, o meu “Sonho de Menino” acaba de ser regravado, com um novo e belo arranjo, pela talentosa cantora paraibana Eloísa Olinto, que faz sucesso no Nordeste com um repertório variado, participando de shows musicais ao lado de consagradas estrelas como Gal Costa e Elba Ramalho, tendo ficado conhecida em todo país ao participar com êxito, no anos passado,  do Quadro Mulheres que brilham, do Programa Raul Gil, no SBT. Para os que acreditam nos desígnios do imponderável, Eloísa Olinto, a nova intérprete, representa uma espécie de “fada madrinha” enviada por Deus,para lançar a música certa no lugar certo, já que,  sendo tipicamente junina, ela está sendo promovida em João Pessoa e Campina Grande, na Paraíba, onde se realiza a maior Festa de São João do mundo.

Clique e ouça a gravação da nova versão de “Sonho de Menino”, no Palco MP3 de Eloisa Olinto:

2 thoughts on “Meu “Sonho Junino” em Campina Grande

  1. Eloisalucho says:

    Lino, fico imemsamente feliz pelo sucesso que tua música “sonho de menino” esta fazendo!!! E ficamos lisonjeados de termos teu lp original guardado entre as relíquias de nossos amigos e parentes. Tu mereces tdo sucesso e reconhecimento. Inteligente, coerente e de uma humildade contagiante!!! Grande amigo e primo! Bjos, Marco e Eloisa.

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