Ivani Medina

Como se esperar honestidade e respeito em sociedades produzidas por uma cultura cheia de segredos e mentiras? Se o mundo ocidental não deu lá muito certo como produto da cultura cristã, a quem devemos responsabilizar? À ciência, que nos foi livrando progressivamente das superstições? Aos não crentes que se recusaram à farsa?

Ora, ora está aí o Natal. Mais um aniversário do maior embuste da história da humanidade. Alguns reclamam que essa festa perdeu o seu verdadeiro sentido para tornar-se a volúpia do comércio. Diz-se que a mentira repetida várias vezes vira verdade. Vira nada. Vamos ver o que acontece com a verdade repetida.

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Pergunte-se: Poderia uma pessoa que nunca existiu ter influenciado a história humana de modo tão notável?

Sim. Somente uma pessoa que nunca existiu seria capaz disso. Uma que tenha existido teria seus pontos censuráveis como todos nós; e aí ba bau… O forte do cristianismo sempre foi a propaganda. De início, dominou a educação e o ensino o modo mais fácil e seguro de se propagar conceitos e atitudes. A nova Paidéia.

Somente na mente de crentes, e em benefício da própria fé, a história da origem do cristianismo pode ser acolhida como se apresenta. É contada no Novo Testamento e apenas nele existe. Portanto, nada há de científico no seu acatamento. Trata-se de um ato de imposição política e cruel.

Toda essa conversa de “Cornélio Tácito, respeitado historiador romano do primeiro século, escreveu: “O nome [cristão] deriva-se de Cristo, a quem o procurador Pôncio Pilatos executou no reinado de Tibério.” Suetônio e Plínio, o Jovem, outros escritores romanos daquela época, também se referiram a Cristo. Além disso, Flávio Josefo, historiador judeu do primeiro século, escreveu sobre Tiago, a quem identificou como “o irmão de Jesus, que era chamado Cristo”. Não vale meio centavo furado. Por quê?

Porque, inicialmente, nenhum dos primeiros apologistas cristãos se referiu a nenhuma dessas “provas” fabricadas posteriormente ou a partir do século IV. Por quê?

Porque o cristianismo surgiu no século II e a “história” contada e situada na Palestina no século I é pura invenção. Oh! Não pode ser!

Pode sim. Lembra de que nos primórdios havia uma contenda entre os cristãos? Pois então, uns queriam um Cristo espiritual e outros um Cristo de carne e osso, o “histórico”. Os primeiros aspiravam pelo aprimoramento espiritual do indivíduo na luta contra o judaísmo. Os segundos estavam determinados a vencer e subjugar o judaísmo. Para tanto necessitavam de uma ligação mais convincente com a cultura judaica. Foi aí que a porca torceu o rabo, pois estes ficaram perigosamente dependentes da história. Mas por quê?

Porque nos primeiros séculos o proselitismo judaico avançava perigosamente sobre a cultura greco-romana e o número de convertidos plenos crescia de forma preocupante. Especialmente as mulheres, pois não precisavam da circuncisão. A pressão de certa camada das classes altas atuava junto ao governo solicitando uma atitude e assim foi feito.

O imperador Adriano (117-138) acabou proibindo indiscriminadamente a circuncisão em todo o Império, um dos principais motivos da terceira guerra romano-judaica, em 132. A conversão ao judaísmo seguia passos obrigatórios que levavam tempo. No final do processo o prosélito era circuncidado e somente a partir daí era aceito como membro da nação de Israel depois de uma oferta em dinheiro.

Pois é, além de se comprometer a se afastar completamente dos costumes pagãos, aderir à dieta rigorosa dos judeus, se afastar de membros da família tinha que pagar. Isto significa que a despeito de todo sacrifício a aceitação de gregos e romanos pelo judaísmo, era ampla e perigosa para a cultura dominante da época e para o Estado.

Todavia, o sucessor de Adriano, Antonino Pio (138-161), relaxou um pouco as medidas antijudaicas, mas manteve a proibição da circuncisão sob pena de morte somente para não judeus. Daí uma legião de prosélitos incircuncisos, que jamais seria aceita na nação de Israel, recebeu atenção de uma nova religião alegadamente surgida de uma seita judaica do primeiro século, que havia abolido a circuncisão e a rigidez mosaica abrindo concorrência com o judaísmo real.

Detalhe: quem eram esses divulgadores ou propagandistas dessa nova religião que chegam a Roma em meados do século II?

Judeus reformistas insatisfeitos com o judaísmo tradicional? Sindicalizados da indústria manufatureira do pescado da Galiléia? Não. Eram gregos na maioria e uns poucos latinos, os mais incomodados com o proselitismo judaico a liderar tal iniciativa. Filósofos, educadores etc. nenhum pobrezinho iletrado no meio deles. Curioso, não?

É só pensar um pouquinho: pelo teor das mensagens, Jesus precisava ser judeu?

Não. Refiro-me ao teor positivo, porque quanto ao teor negativo ele não poderia ser judeu. Por que os fariseus (defensores do judaísmo ortodoxo) foram tão esculachados pelos evangelhos e os judeus em geral pela história cristã?

Por que a crucificação do personagem Jesus, o filho de Deus e Salvador da humanidade, foi creditada aos “malévolos” judeus condenando à perseguição um povo inteiro, gerações de inocentes ao ódio do mundo? Ora bolas, foram acusados de pedirem a cabeça do Salvador da Humanidade, justo eles que eram acusados de inimigos da Humanidade. Só não vê quem não quer.

Tudo isso para ocultar com essa farsa teológica e ridícula o roubo do Antigo Testamento, do qual sintetizaram o antídoto. Que coisa feia! Esse é o maior segredo do cristianismo, seu teor negativo, isto é, sua inconfessada história de ódio. O Jesus histórico da manjedoura e coisa e tal nunca existiram mesmo!  É uma invenção da ala vitoriosa do cristianismo primitivo, a ortodoxia cristã, na ânsia de submeter o judaísmo e a nossa cultura não quer que isto apareça. Do contrário, ela se ferra. Pronto, simplesinho assim.

Sinceramente, eu espero que ela se ferre o quanto antes. Que o natal continue a ser o que sempre foi, ou seja, uma linda festa do comércio, das crianças, das famílias e dos amigos. E que essa palhaçada mentirosa chegue logo ao fim para um novo começo.

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