(*) Nelson Valente
Nos tempos do nosso convívio, na prefeitura de São Paulo, ria muito das tiradas imprevisíveis do ex-presidente Jânio Quadros. Precursor de um naipe incrível de trabalhar o avesso da comunicação.
Tudo era notícia. Sabia criar notícias como ninguém e não saía da mídia, não gastou nenhum tostão de 1986 a 1988, enquanto Prefeito da cidade de São Paulo, com verbas publicitárias.
Detestava pesquisas. Sobre pesquisas no país, Jânio Quadros a sintetizou numa frase: “No Brasil, toda pesquisa é um número”.
Passa-se o tempo e a realidade não é muito diferente.
Ganha um doce quem disser o número de analfabetos existentes no Brasil.
Fala-se em 19 milhões, mas há os que defendem o incrível número de 30 milhões, o que seria mais que a população da Argentina. Semianalfabetos, então, é escolha livre. O número oscila, podendo alcançar até os 60 milhões de brasileiros.
Veja-se o caso das crianças em idade escolar que se encontram alijadas do processo de atendimento.
O discurso oficial cita a existência de 4 milhões, na faixa etária dos 7 aos 14 anos de idade, mas há versões bem pessimistas, como a que se refere ao número de 7 milhões de crianças desassistidas.
Uma coisa é trabalhar com perspectiva do atendimento de 4 milhões, outra completamente diferente é pensar em 7 milhões.
Não há de causar espécie, assim, a construção desordenada e demagógica de escolas públicas, como ocorreu no governo Collor com os CAICs e recentemente com a prefeita Marta com os CEUS.
Com o fato adicional de ninguém ter se preocupado com os trabalhos de manutenção,gerando uma sombria perspectiva em relação a esse projeto arquitetônico.
O número de escolas brasileiras é elástico. Uns proclamam a existência de 250 mil, somando as unidades da zona rural (em geral unigraduadas) com as da zona urbana.
Outra versão, divulgada em horário eleitoral gratuito, cita o bonito número de 200 mil. Com quem estará a razão? E o número de professores e especialistas, hoje seguramente ultrapassado a casa de 1 milhão? São quantos, afinal?
Parece que esse alegre desfilar aritmético está prestes a terminar, como enfatizava o ex-presidente Jânio da Silva Quadros. Enquanto isso não acontece, prossegue o samba do “crioulo doido”, cada um sacando números a bel prazer, como se fôssemos uma nação de irresponsáveis.
Jânio Quadros, afirmou e tem razão: “No Brasil, tudo é um número”.
(*) é professor universitário, jornalista, escritor e um amigo inestimável.
Olá Giba,
Em um país onde se vende ou troca votos, ou normalmente diz que não gosta de politica, ou então vota para em que está na frente nas pesquisas para poder dizer não perdi meu voto, não podemos esperar nada.
Meu carinho
Giba, infelizmente no Brasil a pessoas e os políticos (e seus marqueteiros) levam as pesquisas a sério demais. Abraços.