Na cidade de São Paulo, os assaltos são sucessivos, não se tem garantia de nada, mata-se por qualquer bobagem.
(*) Nelson Valente
Na cidade de São Paulo, os assaltos são sucessivos, não se tem garantia de nada, mata-se por qualquer bobagem. A droga comanda as ações desses celerados. Vivemos num país com enormes desigualdades sociais (desigualmente desiguais), com altos índices de desemprego e não se espere que não tenhamos um preço a pagar por isso.
Não pode haver indiferença do Estado, enquanto cresce essa lamentável criminalidade. Se o cidadão fica responsável pela sua própria defesa, fazendo justiça por conta própria, com a privatização do poder de polícia, corremos o risco de uma guerra civil.
O próprio governador do estado de São Paulo, José Serra reconhece que, em virtude da incidência de muitos crimes, o governo é obrigado a dedicar grandes somas à polícia e ao sistema judiciário.
Melhor fariam, é claro, se pudessem colocar esses recursos para melhorar o atendimento educacional, oferecendo uma solução de raiz, que falta à cidade de São Paulo. Via de regra, a repressão é apenas temporariamente removida, não tardando a reinstalar-se.
Um jornal de São Paulo deu-se o luxo de fotografar, durante dias seguidos, a operação de alguns desses meninos num movimentado trecho dos Jardins. Eles se constituem em bando, onde sempre aparece um maior para orientar os roubos ou furtos, vitimando distraídos motoristas em plena avenida Brasil.
Conversei com uma autoridade policial e a explicação veio com muita objetividade: não adianta prender, pois eles são “de menor”, e logo serão soltos para reiniciar a sua faina.
Detalhe apavorante: têm a média de 10 anos e, nas conversas, revelam um precoce e triste desprezo pela vida humana. Estão fazendo vestibular para se tornar os grandes assaltantes de amanhã.
Sob as vistas complacentes das autoridades e até mesmo de muita gente fina da nossa melhor sociedade, que acha tudo isso natural numa democracia.
São Paulo é uma cidade desenvolvida e com um nível de vida apreciável convivem com outras, totalmente desassistidas, onde a pobreza, a ignorância, a violência e a miséria fazem parte de seu cotidiano.
Uma das realidades mais tristes da capital Paulista é a verificação de que se trata mesmo de um Estado de muitos contrastes caleidoscópico, que se apresenta em forma de mosaico sem nexo, que vive transfigurando e refigurando o espetáculo da vida como se o confundisse com um reality show.
Um aspecto que é preciso enfatizar: a grande maioria dos delinqüentes infanto-juvenis provém de lares desfeitos ou que jamais se constituíram como tal.
Quando se luta para que a educação seja dada no lar e na escola, como tantas leis determinaram, o que se vê na prática é a ruptura desse princípio – e os resultados são rigorosamente catastróficos.
Gostaria de voltar à prioridade de recursos para a atenuação dos graves problemas sociais que enfrentamos. Ninguém pode condenar a idéia de se ter penitenciárias com o rigor desejado, nesse eufemismo da “segurança máxima”.
O que pleiteiam os educadores e os homens de bom senso é a solução de base, ou seja, escola para todos – educação máxima – a fim de que não se tenha de chorar a impiedosa ação dos marginais, hoje os verdadeiros donos das ruas e favelas das nossas grandes metrópoles.
(*) é professor universitário, jornalista e escritor