Por mais que se queira provar que a educação é um fenômeno contínuo, sem saltos, a história demonstra que, em nosso país, ela se faz de modo contrário ao que determina a lógica. Um exemplo pode ser dado à música.
Sou da fase do canto orfeônico, da obrigatoriedade de cantar o Hino Nacional antes de entrar na sala de aula, diariamente, com exceção apenas para quando a ocasião exigia o canto do Hino à Bandeira, do Hino à República ou do Hino à Independência.
Ninguém passava de ano sem saber a letra de todos os nossos hinos. Certamente, o fenômeno era consequência do trabalho desenvolvido pelo maestro Heitor Villa-Lobos à frente da Superintendência da Educação Musical e Artística do Rio de Janeiro (desde 1932), estimulando o canto de hinos e canções patrióticas, para unir de forma harmoniosa o erudito e o popular.
Depois, fez-se o hiato. O canto orfeônico foi retirado dos currículos, não era matéria importante (diziam alguns), e a consequência é sentida até hoje.
Os hinos não são conhecidos, não são respeitados, em partidas internacionais nossos jogadores fingem que cantam, nas escolas quase não se fala nisso, o que é natural, pois os próprios professores não conhecem as letras, enfim, um desastre em matéria de civismo, de que tanto se fala e pouco se pratica.
Agora, louve-se a iniciativa do professor Arnaldo Niskier, ex- secretário da Educação do estado do Rio de Janeiro, que mandou distribuir nossos principais hinos por todas as 450 escolas do sistema educacional do Rio de Janeiro. É medida patriótica, de efeito a médio e a longo prazo, no espírito de professores e alunos.
Ele só fez uma exigência aos produtores da fita: “Incluam a Canção dos Expedicionários, pois a letra do Guilherme de Almeida é lindíssima e marca um momento de rara importância da cidadania brasileira: foi a participação e vitória na II Guerra Mundial”. Pedido atendido, Rio de Janeiro dá um passo à frente, em matéria de resgate de alguns dos nossos mais preciosos símbolos.
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Nelson Valente é professor universitário, jornalista, escritor e amigo inestimável
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E mais…
Ao se tornar uma República, o Brasil precisava adotar os símbolos da Pátria. O Marechal Deodoro da Fonseca oficializou, então mediante o decreto nº 171, de 20/1/1890, uma música, já existente, composta pelo maestro Francisco Manoel da Silva, como o "Hino Nacional Brasileiro". No início, era chamado de "Marcha Triunfal", mas logo passou a chamar-se "Hino Nacional" e a ser executado pelas bandas militares em todas as solenidades ou eventos históricos. Mais tarde, foram-lhe acrescentados alguns versos de Ovídio Saraiva de Carvalho, seis dias após a abdicação de D. Pedro I. O povo, porém, não adotou a letra e cantava o hino com versos próprios. Havia diversas versões, todas relacionadas à monarquia.
Logo após a proclamação da República, o governo fez um concurso público para a escolha da letra definitiva do "Hino Nacional Brasileiro". O vencedor foi o poeta Joaquim Osório Duque Estrada integrante da Academia Brasileira de Letras. Seu poema correspondia ao ritmo da música e continha ideais próprios do novo período republicano.
O "Hino Nacional Brasileiro" oficializado, então, com letras e músicas, pelo decreto no 15.671, de 6/9/1922.
Abraço.
Meu caro amigo Giba, boa noite!!!
Concordo com o autor Nelson Valente!
Também sou do tempo que cantávamos o Hino Nacional todos os dias antes de adentrar na sala de aula… tínhamos aulas de música, onde aprendíamos o significado da letra do Hino e como cantar corretamente… era muito valorizado.
Hoje isso tudo sumiu… logo vamos ter que aprender o novo hino do pt, aquele da bandeira vermelha…
Parabéns pela excelente matéria!
Grande abraço e muita paz!!!
Uma das causas da desvalorização do Hino Nacional está nas propagandas que incentivam o consumismo desenfreado, ligado a datas como Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia da Criança, Natal e Páscoa.
Não é difícil perceber que os feriados relacionados a nossa pátria (7 de setembro e 15 de novembro) não recebem tanta atenção da população, graças ao poder da mídia. E sabem por quê? Por motivos óbvios: esses 2 feriados não geram lucro imediato. É só ler os jornais e já estão divulgando o Natal (e estamos ainda em setembro…)
A decadência da educação, reforçada pela extinção de disciplinas como Moral e Cívica, fez as escolas considerarem os hinos brasileiros dispensáveis.
Se a maioria dos jogadores nem ingressou no ensino médio, como então podem saber na ponta da língua mostrar patriotismo através do Hino Nacional?