Uma das coisas mais desagradáveis que acontece na vida dos brasileiros, notadamente os da classe média, sempre com “imposto a recolher e dívidas a pagar”, na hora do acerto de contas com o Leão, é a famigerada Declaração do Imposto de Renda, via de regra cheia de dispositivos traiçoeiros, capazes de levar o contribuinte, ao menor descuido, a cometer um equívoco qualquer, a ponto de cair na malha fina e ter que recolher à Receita Federal mais dinheiro ainda, além do que já lhe foi ‘extorquido’ pelo imposto injusto, a título de multa ou coisa que o valha.
Citei como exemplo a classe média por representar aquele segmento da população que possui renda suficiente para uma vida digna – o que deveria se estender a todos – sem, contudo, desfrutar daquele “mar de rosas”, representado por sonhadas viagens e bens de consumo só acessíveis aos detentores das grandes fortunas, parte dos quais – vale dizer – sonegadores de impostos impunes, umbilicalmente ligados aos “esquemas cooperativos” do poder, onde as relações inconfessáveis entre corruptos e corruptores camuflam-se em ‘simulacros’ como organizações não governamentais, doações de campanha, movimento disso e daquilo, bem como empresas prestadoras de serviços públicos, não raro de fachada.
Enquanto isso, leem-se na mídia – sem qualquer repercussão junto às autoridades fazendárias, coisas como a que foi veiculada na edição do último dia 9, do Jornal do Brasil, informando que o ex-presidente Lula estaria devendo mais de R$ 1,9 milhão à Receita Federal, a título de impostos relativos ao faturamento decorrente de quinze palestras realizadas até o mês de agosto, correspondente a um ganho médio de US$ 300 mil por palestra. Essa dívida fiscal, segundo a matéria, vai ultrapassar a cifra de R$ 2 milhões, com outros eventos do gênero confirmados até dezembro. A notícia salienta que o faturamento decorrente dessas palestras é de quase R$ 7,1 milhões.
A se confirmarem esses dados e considerando as denúncias de enriquecimento ilícito não esclarecidas, como o de Lulinha, filho do ex-presidente, o do filho do ex-ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, o do ex-ministro chefe da Casa Civil, Antônio Palocci, e os de tantos outros figurões da “República Redemocratizada do Brasil”, não há como não nos sentirmos “palhaços das perdidas ilusões”, como o personagem do “Chão de Estrelas”, de Sílvio Caladas e Orestes Barbosa, cuja porta do barraco em que morava era sem trinco, como sem trinco são as portas dos luxuosos gabinetes do poder, sempre escancaradas para receber um ou outro parceiro, nesse banquete faustoso, regado a negociatas, sem hora marcada para terminar.
Lino Tavares é jornalista diplomado, colunista na mídia gaúcha e catarinense, integrante da equipe de comentaristas do Portal Terceiro Tempo da Rede Bandeirantes de Televisão, além de poeta e compositor
É como aquela frase, cujo autor desconheço “Com os pequenos, – no Brasil – o governo age como um leão; com os grandes, mia como um gato”.
Excelente texto mesmo!! Serei redundante em dizer que só a classe média paga imposto!! aliás, paga todos os impostos, sem direito e nada e se cair na malha fina, 5 anos de atraso na vida com certeza!
Obrigado por seu testemunho, caro José A. Karacek
Se todos tivessem essa consciência, talvez menos safados ascendessem ao poder e, provalmente, menos dinheiro teria que sair do nosso bolso, para sustentar as esmolas sociais e as contas bancárias dos piratas do erário que aí estão. Um abraço. Lino
Excelente texto digno de coroação.
Como o caro jornalista diz, quem paga imposto no Brasil é a classe média. E pra quê e por quê? Ora, uma minúscula parcela vai para sustentar os miseráveis com os programas ‘compra votos’ e o restante para os de colarinho branco desviarem para suas contas fantasmas ou em paraísos fiscais, deixando a sofrida classe média chupando o dedo.
Abraço Lino,
José – Blog Cotidiano Em Foco