Davambe

“Chip para todos os animais, assim será fácil controlar”, disse o Elefante Cinzano.
Andou de um lado a outro a ruminar como um velho que percebendo a chegada da velhice nada pode fazer senão dar a mão e continuar com o seu caminhar, mas não para o cemitério.
Também por que foi inventado o dia de finados? Ou ele não foi inventado?
Fez-se existir porque o defunto estava ali de alma presente para ser lembrado. Apenas naquele dia e não em todos os dias. Ah, aquele é dia especial, afinal lembra-se de cosmonidade, além de um convívio harmonioso com os desaparecidos de matéria. Há mais: os povos de oralidade aproveitam para contar histórias de antigamente aos seus filhos, vangloriando os que vieram antes, os que cá estiveram de corpo, alma, suas abensonhadas benfeitorias, sucessos e infelicidades. O Cágado, não perdia oportunidade para emitir sua opinião:
“Antigamente era tudo melhor.”

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O Elefante queria que todos estivessem juntos interfaceados, foi então que teve a brilhante ideia de injetar um chip em todos os seus cooperantes, para tanto, contava com o Leão seu subordinado imediato para viabilizar o projeto. Fogos se fizeram ouvidos, canho e amarula ficaram à vontade para comemorarem a novidade.
Quando o dia seguinte ficou maduro, o Leão já tinha arquitetado tudo. Sem delongas as atividades de injeção do chip tiveram início e todos foram contemplados.
“Viva! O Elefante nosso patrão querido, viva!”, diziam em coro.
“Vida comprida para ele!”, dizia o Cágado com seus 113 anos, mas ativo como um mancebo de gazela florida.
O Leão, ouvindo os elogios direcionados ao patrão Elefante e não ao Chefe Leão, iniciou seus tremendos roncos e rugidos que faziam a terra tremer e os demais começaram a correr para destino ausente.
Utilizando a tecnologia em seu poder comunicavam-se e minutos depois estavam reunidos em local fora do alcance dos olhos do Chefe.
“Como vocês sabem, estamos juntos”, foi essa a mensagem emitida pelo Leão para intimidá-los. Ninguém leu a mensagem, estavam ocupados em navegar nas profundezas da internet, pouco se interessando pela individualidade felina. O Leão podia rugir, os demais também podiam imitá-lo, entretanto ele não podia imitá-los a todos, de modo que a conexão era unívoca, todos conheciam sua intimidade porque falavam a sua língua e ele não podia adentrar na intimidade de seus subordinados porque desconhecia seus falares, não podia ser íntimo, inviabilizando a tão sonhada conectividade.
Ao mesmo tempo em que estavam conectados, estavam desconectados. Cada um no seu mundo continuaram a viver sem convívio. Enquanto aquele trabalha, este escutava um sambinha, outro navegando pelas redes sociais, um estudando como se conectar ao mundo de formigas.
Estavam juntos, cada um interessado em seu modo específico. Estavam de mãos dadas, mas separados pelos interesses, pela intimidade.
“Cadê todo o mundo?”, perguntou o Elefante Cinzano.
“Conectado”, respondeu o Leão.
“Como assim?”
“Assim, assim!”

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