Davambe
Naquela terra de tão longe, as pessoas viviam tão juntas que os filhos andavam de mãos dadas nos shoppings, museus e outras áreas públicas de lazer das metrópoles brasileiras. Apesar de todos se encontrarem no mesmo lugar uns fatos chamavam atenção: tanto os filhos quanto os país andavam com celulares nas mãos a digitarem sabe se lá o que, assim como foninhos enfiados nos ouvidos dos filhos, só Deus sabia o que escutavam. A única certeza que se tinha era de que apesar de todos se encontrarem no mesmo espaço estavam desconectados. Cada um estava a curtir assunto de seu interesse, com sua tribo. Presente, porém distante do grupo. Foi num dia desses que Natália de Nadalia – moça bonita, professora secundarista, que andava sem tempo até mesmo para respirar – entrou no metrô com sanduíche e monte de cadernos de alunos, com trabalho para corrigir. Comia e lia esta e outra redação. Entre um rabisco e outro no caderno do aluno, tomava um golinho do suco de jabuticaba. A cor do suco e o contraste da beleza da professora chamaram atenção de Zé Dumel que depois de muito hesitar, finalmente havia ganhado coragem para se aproximar da Natalia de Nadalia.
Desgraçadamente quando ele tomou a iniciativa o metrô estava a parar na estação que ela devia de descer. Foi justamente que Zé Dumel não podendo mais postergar se aproximou da professora. Ela percebendo que ele se aproximava, alargou o passo, desceu, andou depressa, quase a correr, mas o passo dele era mais largo, alcançou-a, ela estava agonizando como peixe preso no anzol do malvado pescador, entretanto, ele gentilmente disse:
– Boa tarde.
A professora apavorada, com o coração quase a escapar do tórax, tentou correr, mas a saia estava justa o suficiente para não permitir essa ação, não respondeu a saudação do outro, parecia que as palavras haviam fugido com a aproximação do Zé Dumel. Ela então sem palavras, e sem pensamento no lugar, sacou da bolsa o que seria terrível para muitos pais, afinal era uma das motivações para madrugação; a nota de cem reais, foi passando para Zé Dumel, sem mesmo olhar.
– Quero seu dinheiro não, moça.
Então ela parou bruscamente a chiar como um automóvel, sua angústia aumentou temendo o pior, pronta para deitar cadernos no rosto do rapaz.
– Então porque me persegues?
– Queria saber se tu tens algum meio de contato, um facebook ou email, sei lá.
Ela aliviada pediu a nota de volta.