Gilberto Vieira de Sousa

Nicolau Rocco (1861-1932), natural da Itália, que antes de radicar-se no Brasil era antigo funcionário da famosa confeitaria “El Molino” de Buenos Aires, Com a experiência lá adquirida, chegando em Porto Alegre, fundou, em 1892, a Confeitaria Sul-América em Porto Alegre.

Em 1910, acompanhando o ‘boom’ imobiliário decorrente do crescimento e desenvolvimento econômico da cidade, mandou construir o prédio da Confeitaria Rocco, localizado na esquina das ruas Riachuelo e Dr. Flores, junto à praça Conde de Porto Alegre, antiga Praça do Portão.

Confeitaria Rocco Porto Alegre
Prédio da Confeitaria Rocco logo após sua inauguração

Este fabuloso prédio incluía fábrica de doces, confeitaria e salão de festas.

O projeto, em estilo Eclético, foi elaborado pelo arquiteto e construtor Salvador Lambertini, que faleceu em 1911, que veio a falecer antes do término da obra.

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A obra foi concluída pelo arquiteto Manuel Itaqui Barbosa Assunpção Itaqui, sendo inaugurada em 20 de setembro de 1912. Manuel Itaqui Barbosa Assunpção Itaqui também foi responsável pelos prédios do Campus da Ufrgs e do Viaduto Otávio Rocha.

Os atlantes da fachada são obra de Giuseppe Gaudenzi, e o grupo no frontão é de Frederico Pellarin, possivelmente auxiliado por Gustavo Steigleder, uma vez que possuíam uma oficina conjunta.

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As fachadas são ornamentadas com requintado trabalho em ferro nas sacadas e balcões, colunas e pilastras com capitéis em forma de cabeça de leão, grandes letreiros em relevo ornamental com o nome da empresa, profusa decoração de frisos, cornijas, mísulas e a platibanda com balaustradas.

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O edifício destaca-se por sua implantação no terreno de esquina como um bloco monolítico esculpido.

A estrutura do prédio é mista de alvenaria de tijolos de barro e vigamentos de ferro.

A área total do imóvel é de 1.560,00m2 distribuídos em quatro pavimentos:

• fabricação dos doces no subsolo;

• confeitaria, com acesso ao público, no térreo;

• salão de festas no 2º pavimento;

• copa e outras dependências no 3º pavimento.

Do terraço, onde também havia um depósito, se descortinava um belo panorama da cidade.

As esquadrias externas ainda são as originais.

Nelas estão distribuídos três pares de atlantes, formados por um Atlante jovem e outro idoso. O Atlante jovem representando a América e a Fartura e o Atlante idoso representando a Europa e a Abundância. Os Atlantes suportam com uma mão a sacada e com a outra  a cornucópia da fecundidade, representada por um cesto com frutos da terra. O conjunto escultórico no frontispício representa a Luz. A figura feminina central está emoldurada por uma lira tendo ao seu lado duas crianças. Há alusão explícita às artes, em especial à música. O terraço era utilizado como depósito e como local de contemplação da cidade.

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A fábrica de doces, confeitaria, salão de chá e de festas, junto à Praça Conde de Porto Alegre (antiga Praça do Portão), era o local privilegiado dos encontros da sociedade rio-grandense, tanto pela localização e qualificação do imóvel, quanto pela qualidade dos doces. A decoração do interior era luxuosa, com tampos de mármore, entalhes de madeira, pinturas murais de grandes dimensões e iluminação cenográfica. O salão de festas era muito solicitado para a realização de banquetes e bailes aristocráticos, e ali muitas sociedades tiveram seu lugar de nascimento. Frequentaram seus salões, entre outros, Góis Monteiro, Eurico Gaspar Dutra, Getúlio Vargas, Daltro Filho e Mario de Andrade.

Confeitaria Rocco 1920
Confeitaria Rocco 1920

O prédio da Confeitaria Rocco, uma das construções mais bonitas do centro da Capital Gaúcha.

Foi concebida em estilo eclético, com elementos de composição e decoração de fachadas profusamente ornamentadas e baseadas na arquitetura e na mitologia clássica greco-romana. Destaca-se pela monumentalidade e pelos simbolismos diversos, influenciados pelas ideias positivistas.

Tradicional banquete no salão da confeitaria Rocco em 1922
Tradicional banquete no salão da confeitaria Rocco em 1922

Mas nem os musculosos atlantes que sustentam o peso dos balcões, com seus gradis de ferro fundido, foram capazes de suportar a decadência e a inexorável passagem do tempo: em 1968, a Confeitaria Rocco fechou.

A Confeitaria Rocco foi tombada pela Prefeitura Municipal em 1997.

O piso principal deve ser uma confeitaria aberta ao público. Se vamos fazer esforço de desapropriação, ela tem de ser justificada com visitação – diz o coordenador da Memória Cultural da Secretaria Municipal da Cultura (SMC), Luiz Antônio Bolcato Custódio.

Comemoração ao aniversário de cem anos da Confeitaria Rocco
Comemoração de aniversário dos cem anos da Confeitaria Rocco
Festa do Centenário da Confeitaria Rocco
Festa do Centenário da Confeitaria Rocco

O imóvel foi declarado como de utilidade pública, a Secretaria Municipal da Fazenda (SMF) ofereceu R$ 2,5 milhões aos herdeiros de Rocco pelo prédio.

O Prédio tombado pala SMC (Secretaria Municipal de Cultura) em 1997, foi parcialmente restaurado para abrigar a Casa Cor, através de investimentos privados, com articulação da PMPA. As obras incluíram:
  • Recuperação da fachada;
  • Recuperação parcial dos interiores;
  • Construção de sanitários;
  • Recuperação das instalações elétricas e hidráulicas.

Parceria: Casa cor/RS

Investimento: R$270.000,00

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Agora que a história da Confeitaria Rocco foi apresentada, quero mostrar o motivo desta publicação.

Nosso amigo Wilson informou que seu pai ganhou uma cigarreira que foi confeccionada por encomenda do Sr. Nicolau Rocco.

Wilson Coelho Silva, agora com 60 anos de idade, desde os cinco anos via em uma das gavetas de seu pai uma cigarreira finamente trabalhada.

Trata-se de um brinde dado aos clientes mais especiais da confeitaria em função das comemorações ano novo, como podemos conferir em nota do jornal Correio do Povo de 03-01-1931.

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As cigarreiras foram confeccionadas em uma metalúrgica italiana, na cidade de Milão e foram feitas poucas unidades.

Esta cigarreira, pertencente ao pai do Sr. Wilson, foi adquirida numa rifa feita por um italiano que trabalhava com ele na antiga Light de São Paulo, nas oficinas do Cambuci.

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Segundo seu pai, este amigo italiano dizia que a cigarreira pertencera ao pai dele.

O Sr.Wilson andou por muitos lugares a procura de mais informações sobre a cigarreira, mas não encontrou muitos detalhes sobre ela.

Abaixo reproduzo parte das palavras dele quando me contou de sua busca, confira:

” Veja que coisa interessante: meu pai tentou vender esta cigarreira numa dessas casas que compram ouro, próximo da Praça da Sé, mas a senhora que o atendeu não aceitou comprar por se tratar de um objeto muito bonito. E ela somente poderia pagar pelo preço da prata nela contida.

Quando meu pai contou isso pra mim fiquei doido. Então pedi ela pra mim.
Fui na Cinótica, da Rua Conselheiro Crispiniano, e pedi para usar uma das lentes de aumento vendidas pela loja.
Numa das fachadas do prédio incrustado na cigarreira, com 10 x de aumento, visualizei a frase “Confeitaria Rocco”.
Eu tinha uma lente em casa e já suspeitava que havia algo escrito alí naquele local, mas não sabia direito o que era. Parecia ser algo como “Confraria”.
Depois disso fui ao Masp. Minha preocupação era descobrir o nome do artista que a tinha produzido.
Uma das Senhoras do Masp, não sei o nome, disse-me que não encontrou a marca do artista, mas que conhecia aquele prédio.
Ela me disse que havia tomado chá no prédio e que ele se localizava em Porto Alegre.
Mandei uma carta para o Museu Histórico de Porto Alegre para obter informações da Confeitaria Rocco.
Recebi informações do endereço e quem era o Sr. Nicolau Rocco.
Pesquisei a lista telefônica de Porto Alegre, no prédio da Telefônica da Rua 7 de Abril, e encontrei um irmão de Nicolau Rocco, cheguei a falar com ele por telefone. Segundo este senhor, ele já tinha ouvido falar desta cigarreira, mas nunca tinha visto uma.
A mulher deste senhor não permitiu que eu continuasse a conversa, pois ele estava muito doente.
Nunca mais tive contato. “

 

Se você tiver mais alguma informação sobre a Confeitaria Rocco e principalmente sobre esta cigarreira, envie para contato@gibanet.com ou deixe seu comentário.

Confira abaixo fotos da cigarreira, tiradas pelo Sr. Wilson.

Clique na imagem para ampliar.

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10 thoughts on “Confeitaria ROCCO, história e a cigarreira comemorativa

  1. Alexandre Tellini says:

    Olá amigo! Nicolau Rocco era tio de meu bisavô, também italiano José Irace. Meu pai cresceu dentro da confeitaria e jogava bola no telhado do prédio, frequentemente descia correndo as escadarias pra buscar a bola que rolava Riachuello abaixo. Me procure no Facebook caso queira dividir algumas experiências. Um abraço! Alexandre Tellini

  2. Geraldo Davambe says:

    A internet nos mantém conectado com a história, gostei desta matéria, parabéns. A história de uma familia, uma comunidade, e um povo é importante, sem poder contar não somos ninguém. Parabéns a Confeitaria Rocco por nos permitir tantos saberes.

  3. Atena says:

    Que delícia de estória e mais delícia ainda rever a Confeitaria Rocco. Fiquei muito triste quando ela fechou porque adorava ir lá comer coisas gostosas.
    Sinto não poder ajudar no caso da linda cigarreira.

    • Gilberto says:

      Só uma correção, minha amiga Atena.
      Não é estória, é história, com personagens reais em situações reais.
      A confeitaria será reaberta, porém com administração nova.

  4. Rodrigo says:

    Parabéns pela matéria, Giba, muito boa e completa.

    Sou filho do Sr. Wilson, dono da cigarreira, e a história é verídica sim, lembro-me dessa cigarreira desde criança.

    Abraço.

  5. Arthurius Maximus says:

    Duas incríveis obras de arte. Tanto o prédio quanto a cigarreira são belíssimos e honram muito bem toda a história da confeitaria, de seu proprietário e de todos que ali trabalharam.

    Uma peça que não vemos mais hoje em dia, nesses tempos de produção em massa e sem personalidade.

  6. carlos athanasio says:

    Caro Giba. isso mesmo. é um pedaço daquele tempo de Porto Alegre. Pela arquitetura do prédio e do presente ofertado (cigarreira), já se podia ver como eram tratadas as coisas na confeitaria. era um local que de ponto de encontro na cidade. há várias referências a ela nas obras de Renato maciel de Sá, o anedotário da Rua da Praia, I, II e III.
    seria um ótimo local para um restaurante, café, livraria, etc. está parado, hoje, o que é uma pena. cumprimentos pela matéria. abraço, carlos.

  7. Lino Tavares - comentarista do Terceiro Tempo Band e colunista da R.E.GibnaNat says:

    O autor da matéria está de parabéns, por trazer à lume um pedaço importante da história arquitetônica de Porto Alegre, a bela capital gaúcha, que nasceu Porto dos Casais, gestada pelos pares de açorianos que aportaram no Guaíba, para dar àquele lindo Por do Sol uma futura metrópole cheia de atrativos e encantos mil. Se a história da cigarreira é realidade ou ficção, não interessa, pois quando o concreto se une ao imaginário para resultar no belo, temos mais é que aplaudir, já que sem uma pitada de surrealismo nenhuma história teria graça, algo que vale também para os fatos históricos da formação do Brasil, que como sabemos tem muita criatividade nas suas entrelinhas, “dourando a pílula do contexto histórico tupiniquim”. Como Portoalegrense de criação, sempre ouvi falar muito da Confeitaria Barroco, palco de grandes encontros reunido figura de proa das artes, da política e da cúpula empresarial. Até já cantei essa que é também conhecida como “Cidade Sorriso”, nesse poema intitulado Porto Saudação, escrito em homenagem ao aniversário da Terra de Elis Regina e Lupicínio Rodgues. Veja aqui: http://linotavares.blogspot.com.br/2010/03/ao-aniversario-de-porto-alegre.html

  8. Ivani Medina says:

    Caro Giba, pena não poder ajudar rs. Agradeço o envio de matéria tão interessante rpóximo do dia do arquiteto (15 de dezembro)

    Grande abraço,
    Ivani.

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