Carlos Athanásio
Os projetos do genial arquiteto Theodore Wiederspahn, definitivamente nosso maior profissional, estão imbricados na época em que dominava o estilo que conhecemos como Ecletismo ou Revivalismo:
“É a denominação de um fenômeno sócio-cultural que ocorreu muitas vezes ao longo da história universal e que procura resgatar princípios e tradições de tempos passados, seja para enfrentar desafios aparentemente insolúveis de sua própria época, seja quando uma corrente vital se esvai e nada parece surgir para preencher o vazio. Michael Horowitz define Revivalismo como
“… uma ressurgência de valores espirituais e/ou culturais dentro de uma cultura que percebe a si mesma como decadente (…) em resposta à crescente neutralização daqueles valores por uma cultura percebida como dominante ou em via de se tornar dominante.”.
Neste sentido o Revivalismo pode ser compreendido como um movimento de caráter conservador e defensivo, e é comum em sociedades cujo passado tem momentos de grandeza e esplendor, mas o termo tem sido usado em uma variedade de maneiras nos campos da política, da religião, da arquitetura, da literatura, da moda, damúsica e em outros mais, algumas vezes de modo positivo e restaurador – como uma referência antiga perene, acima da volubilidade dos tempos e da aparente decadência do presente – noutras claramente pejorativo, quando a recuperação do passado é considerada um arcaísmo reacionário e fora de moda pelas vanguardas do momento, e mesmo de modo mais neutro e flexível, quando o acervo de estilos antigos é visto como uma herança comum a todos que pode ser usada conforme nossa conveniência e vontade. Nesta última linha de apreciação se coloca, por exemplo, o arquiteto Ralph Adams Cram que, ao fazer uso de elementos neogóticosem estruturas modernas disse que “o estilo desenvolvido e aperfeiçoado por nossos ancestrais é incontestavelmente uma herança que nos pertence”.
Nenhum estilo poderia ser mais adequado ao arquiteto Theodore que em sua história de vida viveu os momentos cruciais das guerras e as consequências da sua origem alemã
“Formou-se na Escola de Construção de Wiesbaden em 1894 e migrou para o Brasil em 1908, para trabalhar na Viação Férrea, o que acabou não acontecendo por problemas de contrato. Passou, então, a trabalhar como arquiteto no escritório de engenharia de Rudolf Ahrons, um porto-alegrense que havia se formado em Engenharia Civil na Escola Politécnica de Berlim, em 1903. Wiederspahn lá trabalhou até 1914, quando a firma foi fechada por causa da Primeira Guerra Mundial. Após a guerra, ele fundou sua própria firma, que faliu em 1930, por causa da crise que assolou a economia mundial naquela época.Em 1933, com a exigência do registro profissional, Theo foi rebaixado para a categoria de “construtor licenciado”, passando então, a trabalhar para a Igreja Evangélica de Confissão Luterana, onde teve suas atividades novamente interrompidas durante a Segunda Guerra Mundial.
Abriu escritório na cidade de Novo Hamburgo (RS), onde foi responsável por algumas obras residenciais, e pela construção do prédio da Sociedade Frohsin (hoje Aliança). Theo teve tanta visibilidade e tanta fama que ainda hoje é lembrado como o maior arquiteto gaúcho de todos os tempos. Por isso, atraiu muita inveja, ciúme edespeito. Por ser de origem alemã, mesmo estando perfeitamente integrado à vida dos pampas, sofreu perseguições políticas durante a segunda guerra. Por causa do desgosto e muito ressentido pelo tratamento que recebera, acabou entrando em depressão. Morreu com 73 anos.”
Espetacular
O espetacular, no caso específico das Casas da Luciana de Abreu em Porto Alegre, é a visita de Theo à história inglesa, à arquitetura Georgiana compreendida no período de 1720 a 1840.
As famosíssimas casas georgianas, residências geminadas formando conjunto em desenho curvado fizeram muito sucesso no mundo, servindo de exemplo conceitual de habitação para todas as nações européias, inclusive para a Alemanha.
Theo aproveitou a curva da rua Luciana de Abreu e inteligentemente projetou e implantou o conjunto de 5 casas formando um curvatura suave, agradável, íntima. Ao mesmo tempo atualizou o projeto incluindo o mais novo elemento construtivo – a garagem – advindo da existência recente do automóvel que – a partir de 1928 com Ford produzindo em escala industrial- tornava-se acessível à população mais abastada.
Podemos afirmar, sem sombra de dúvida, que este conjunto de casas, inspirado na arquitetura georgiana, de implantação em curva, além de inédito à época, é o ÚNICO EXEMPLO construído deste período do Ecletismo-Revivalismo existente em Porto Alegre e talvez no Brasil.
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