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Jânio da Silva Quadros é uma personalidade incomum, pois, examinando-se as personalidades históricas no mundo da política e das ciências em geral, podemos notar que em cada uma dessas personalidades conseguimos definir quem é populista ou pragmático.
O populista modifica o seu discurso, ajustando-o ao dia em que será pronunciado, diante das vicissitudes do momento e aos meios culturais, sociais e econômicos.
Refiro-me, neste caso, aos populistas astutos, prudentes, deixando de considerar certos tipos de populistas antigos e contemporâneos que praticam, ou praticavam, um só tipo de discurso, dentre eles alguns de passado não muito longínquo, que se mostravam cômicos e outros que apresentam um discurso puramente ideológico, imutável, já que procuram, em primeiro lugar, convencer a platéia quanto às vantagens da adoção dos seus objetivos ideológicos e, em segundo lugar, buscam a adesão e os votos.
O populista ideológico procura penetrar no conceito das populações mais simples, desprovidas de cultura, porque são manipuláveis e arrastadas facilmente para integrar-se a ideologias.
O discurso ideológico de esquerda, em geral, é contestador e contundente. Por isso atrai e carrega os indivíduos descontentes com a situação vigente, acreditando que as mudanças no sistema político social podem resultar em abrandamento da suas angústias.
O discurso pragmático é de conteúdo conservador; procura explicar o que se pretende fazer e, ao mesmo tempo se compromete a zelar pelos bens já existentes, neles incluindo-se o patrimônio institucional.
Quando um país passa pela fase de desenvolvimento, isto é, está saindo para a modernidade, observa-se a ocorrência de surpresas no comportamento de sua sociedade, seja no procedimento social ou político. Nessas mudanças de comportamento observa-se que as manifestações de caráter se enfraquecem, dando lugar a sentimentos moderados e cada vez mais nacionais.
Nesta situação transitória, ocorre o enfraquecimento das lideranças políticas, pois, à medida que o cidadão se torna mais consciente da realidade que o cerca, mais cresce o seu sentimento de autonomia e mais se distancia das lideranças políticas e vai desaparecendo o que chamamos de “voto cativo”.
Nesta fase os políticos populistas começam a sair de cena e cair no ostracismo e novos nomes surgem no horizonte nacional, porém, sem a estabilidade de permanência que caracteriza os chamados líderes carismáticos, conhecidos principalmente nos países do Terceiro Mundo.
O líder é atuante e o liderado é fraco e, naturalmente, dependente. Em situações semelhantes, a simples decisão de um líder pode ser fatal. Na condução ao sucesso, poderá ser aclamado por sua coragem e sabedoria; ao fracasso, tanto o líder quanto aos seguidores irão negar provavelmente que tal decisão tenha-se tomado livremente.
Jânio, considerado um líder carismático, com uma personalidade firme, contando com uma coalizão de grupos, resolve chegar às raias da tragédia da política brasileira: a renúncia.
O líder pode de forma significativa estabelecer diferenças numa série de conjecturas ao enunciar tomadas de decisões pessoais, em momentos de conjuntura crítica. Charles de Gaulle, Joseph Stalin, John Kennedy e Lyndon Johnson e cada um deles, em sua época, tomou uma ou várias decisões desse tipo. Foram pressionados até o máximo de suas resistências pelo peso da responsabilidade de tomar atitudes, enquanto outros vicejaram sob tais pressões.
Vejamos então, considerando-se as características que definem o populismo e o pragmatismo e as influências que exercem no contexto das Nações, como se poderá definir a personalidade do cidadão dentro do processo de comunicação.
Os princípios da comunicação seriam definidos, em seu conjunto, há algumas décadas passadas, como “Propedêutica”, que significam estudos preparatórios que servem de base para aprofundamentos de estudos subseqüentes. Por isso considero de grande importância que se encaixe este estudo enfocando o cidadão Jânio da Silva Quadros desde os primórdios da sua vivência pública:
1 – Foi eleito vereador da cidade de São Paulo, apresentando-se como cidadão pobre, dizendo-se igual e, portanto, defensor dos possíveis eleitores, utilizando, então, um discurso populista; chegando a deputado estadual repetindo o mesmo estilo e, em seguida, à Prefeitura da Capital;
2 – Logo em seguida, lançou-se candidato ao governo do Estado de São Paulo, empunhando a bandeira da “moralidade”, também populista;
3 – Terminado o mandato de Governador, elegeu-se Deputado Federal pelo Estado do Paraná;
4 – Em 1960, foi lançado candidato à presidência da República pela União Democrática Nacional (UDN), um partido de características marcadamente pragmáticas, recebendo completamente o apoio de mais alguns partidos;
5 – Jânio, que até então havia sobrevivido na vida pública através de um discurso populista, atraiu imediatamente as atenções, não só dos cientistas políticos do Brasil, mas também do Exterior, todos interessados em saber qual seria a linguagem que Jânio aplicaria, levada à campanha eleitoral por um partido organicamente pragmático.
Espanto geral entre os cientistas políticos!
Jânio enquadrou-se tranqüilamente ao esquema da UDN, propondo reformas modernizantes (objetivos permanentes da UDN), dando-lhes uma conotação de objetivos trabalhistas.
Jânio da Silva Quadros mostrou assim, ser capaz de agradar e convencer a um só tempo a gregos e troianos, colhendo votos de ricos e pobres, elegendo-se para a Presidência da República com mais de cinco milhões de votos, o que, para a época, era algo acima de quaisquer previsões.
Jânio da Silva Quadros expressa, ao mesmo tempo, linguagem verbal e não verbal, começando com uma oração verbal e terminando na forma não verbal, através de gestos e até de modificações no seu semblante, características nunca antes observadas em manifestações de caráter público.
Perguntar-se-á, então:
Jânio da Silva Quadros é produto da sua linguagem?
Resposta incisiva: Não.
Jânio da Silva Quadros é produto do meio e do momento. Como já mencionei neste trabalho, o Jânio populista consegue impressionar milhares de trabalhadores num determinado lugar e data e, poucos minutos após, e à pequena distância dali, consegue transmitir firmeza e confiabilidade a empresários e homens de negócios
Conhecedor dos problemas brasileiros, sempre foi capaz de dizer o que as pessoas esperavam e desejavam ouvir, expressando-se de acordo com o meio em que se encontrava, transformando tudo isto em votos de ricos, medianos e pobres.
Este comportamento “sui generis” sempre deu a Jânio da Silva Quadros uma marca muito acentuada à sua personalidade, chamando a si a atenção da maioria das pessoas em todas as classes sociais.
Elegia-se pela via populista e governava pragmaticamente e seus eleitores não se sentiam frustrados, pois Jânio sabia conciliar os interesses de todas as classes, tornando-se cada vez mais respeitado.
Tomava medidas enérgicas contra ação de grevistas sem, no entanto diminuir sua popularidade e, se tivesse se candidatado à Presidência da República em 1989 teria voltado ao cargo, não só pelo seu carisma, mas também pela confiabilidade que sempre marcou suas atitudes.
Seu comportamento sempre apresentou, a cada dia, uma nova faceta, mostrando-nos que o Jânio que pensávamos conhecer no seu “todo” nos contradizia, nos surpreendia.
Jânio NO CONJUNTO DE COMPORTAMENTOS
Nas observações de comportamento, Jânio da Silva Quadros também é elemento a ser estudado.
Quando observado fora de pronunciamentos, em manifestações públicas, demonstra a figura de um cidadão pacato e até desinteressado. Sempre pareceu não se preocupar com sua aparência pessoal, apresentando-se costumeiramente com o colarinho e a gravata desalinhados, mostrando-se separado das exterioridades. Em eventos sociais seu comportamento é retraído e distante, parecendo estar fisicamente num lugar e mentalmente noutro.
Conclui-se, então, que esse distanciamento que Jânio demonstra parecendo estar mentalmente em outro lugar é uma evidência que ele não permanece ligado ao objeto em questão, mas sim aos seus signos. Daí a impressão de desligamento e desinteresse.
Há, portanto, um descompasso entre Jânio visível e o invisível. O Jânio visível é notado diante do objeto, mas o Jânio invisível já está há muito envolvido com os signos desse mesmo objeto.
Isso significa que, enquanto ele permanece visivelmente estático, sua mente continua caminhando e convivendo com os signos do objeto em evidência, dando-nos a impressão de que o indivíduo está diante do objeto real, concreto.
Aos olhos do observador do comportamento humano, se afigura que há entre Jânio e o objeto em questão um processo de abdução, mas, na realidade, o Jânio visível está do lado de cá e o Jânio invisível, mental, já transpôs o espaço subseqüente ao objeto e trilha o terreno dos signos.
Aqui, cabe uma observação elucidativa: às vezes, numa sala de aula, observamos um aluno que parece não estar interessado na aula que está sendo ministrada. Sua postura se afigura indolente, o que preocupa e quase sempre irrita o professor. Este então, solicita ao aluno que fale sobre o que ele, professor, acabara de dissertar. Para surpresa de todos, e muito mais do professor, o aluno acionado diz tudo sobre o que o professor falou e prossegue dando exemplos e formulando problemas e soluções. É que o indivíduo visível apresenta-se com aspecto desinteressado, indolente o que causa a impressão de irreverência e desconsideração, mas na realidade, é esse indivíduo o mais integrado naquilo que se está tratando, tão integrado que até já assimilou o que o professor ainda não disse.
É um falso ícone, porque a representação visível é exatamente contrária ao conteúdo real que está no invisível, isto é, o homem espírito e o homem pensamento.
Há casos em que o indivíduo parece estar dormindo, quando assiste à aula ou palestra. Permanece com os olhos fechados, dando impressão de desapreço. Mas, essa imagem pode não estar representando a realidade, uma vez que nos exercícios de aplicação do pensamento utilizados na prática da psicologia, para que a mente tire o melhor aproveitamento do seu potencial, ouve-se e mentaliza-se com os olhos fechados, pois assim, passa-se a ver com os olhos da mente tudo o que é captado pela audição.
Quando ouvimos com os olhos abertos, mesmo que estejamos dispensando total atenção àquilo que nos está sendo transmitido, não conseguimos assimilar tudo com absoluta eficiência. O meio ambiente, isto é, as coisas materiais, como uma parede, uma mesa, até uma figura estampada numa camiseta toma lugar no nosso consciente misturando-se ao objeto de interesse no momento, contaminando-o e tornando-o impreciso.
Quem assiste às aulas ou palestras com os olhos fechados, torna concreta em sua mente cada palavra proferida, dando forma e cores a cada uma e vê, ao mesmo tempo, todos os seus signos, dando também a estes, formas, tamanhos e cores. Tudo isso ao mesmo tempo em que as palavras representativas do objeto são proferidas.
Olhando analiticamente para um indivíduo com essa característica, só poderemos defini-lo como concreto/abstrato. Seu ícone de homem visível, concreto, palpável, completamente inverso ao homem invisível, homem espírito, absolutamente integrado ao objeto do momento, ou em questão, totalmente dissociado do meio que o cerca. Alheio a todos que o observam fisicamente, ignorando que ali está aquele mesmo indivíduo atento e ativo, assimilando cada palavra proferida, dando-lhes formas, tamanhos e cores, traçando linhas de interligação que as integram aos seus signos, tudo no tempo equivalente ao de um flash ou de um relâmpago.
Tal indivíduo consegue ver o mundo de uma só vez, com seu relevo, seus problemas e suas injustiças; vê a miserável estrutura moral da maioria dos homens a quem Cristo não conseguiu convencer; as enormes populações de alienados que a sociedade de consumo usa como objetos úteis aos seus propósitos; o desmoronamento dos costumes que inapelavelmente levará seus protagonistas a caminhos desconhecidos, inóspitos e vazios.
Os indivíduos que apresentam estas características são naturalmente calados. Estão sempre vendo coisas e situações que as outras pessoas só vêem quando são atingidas por elas.
Jânio da Silva Quadros é um desses pensadores de olhos fechados, que vê e grava em seu subconsciente, objetos e signos em forma cristalina, sem ofuscamentos, solidamente fixados.
DEFINIÇÃO DE Jânio da Silva Quadros NO CONTEXTO DA COMUNICAÇÃO
DISCURSO: Populista.
COTIDIANO: Pragmático.
COMPORTAMENTO SOCIAL: Introvertido.
COMPORTAMENTO POLÍTICO: Carismático
Jânio é produto de sua linguagem?
Não! Jânio é produto do seu pensamento abstrato, astuto o suficiente para manipular seu discurso, adaptando-o ao gosto das várias camadas sociais brasileiras.
CARACTERÍSTICA IDEOLÓGICA: Social democrata.
TENDÊNCIA NACIONAL: Presidencialista.
No decorrer de sua vida pública, Jânio foi rotulado como: comunista, socialista, reacionário e entreguista.
Mas todos esses rótulos eram falsos, uma vez que o social democrata é defensor da eficiência das leis vigentes, conservador na manutenção e aprimoramento dos costumes e sedimentação das estruturas familiar e social.
– Por que Jânio deve ser estudado no contexto da comunicação?
– Porque Jânio sempre aplicou, ao mesmo tempo, a linguagem verbal de expressão populista e a linguagem não verbal pragmática. Aquela, para satisfazer a platéia popular e esta, para causar boa impressão aos cidadãos mais esclarecidos.
CONTRADIÇÕES:
A proposta natural de um social democrata e sempre bem definida e pragmaticamente administrada. É de característica moderada.
O discurso populista é agressivo e de tendência nacionalista.
A administração social democrata é moderada e conservadora.
A administração populista é marcada por propostas mudancistas radicais e contestadoras.
“QUANDO JÂNIO LEVANTAVA A VASSOURA,
A PLATEIA ENTRAVA EM ÊXTASE”
A multidão permanecia gritando “Jânio! Jânio! ” Procurando fazer-se ouvir acima da algazarra, e percebendo que o candidato chegava, o locutor seguia sempre o mesmo ritual:
– “Atenção, Piripiri! Atenção, Piauí! Atenção, Nordeste! Atenção, Brasil! Vai falar aquele que foi vereador, Deputado estadual, prefeito de São Paulo, Governador de São Paulo, Deputado federal e agora, aos 44 anos de idade, é o futuro Presidente do Brasil!”
Essa frase jamais conseguiu ser dita de enfiada, porque, à menção de cada degrau da carreira política do candidato, era o delírio. Senhores da classe média, terno, gravata e chapéu, misturavam-se a operários, peões de obra, lavradores, estudantes e madames cheias de jóias. Padres e freirinhas apontavam o eleito de Deus, a dezenas de fiéis que haviam trazido incorporados. Funcionários públicos, pequenos e grandes empresários, crianças – todos e quantos mais lá estivessem faziam então silêncio absoluto ao sinal ríspido de Jânio, com as mãos, anunciando que ia falar. Ouvia-se, então, as moscas voarem. A massa já estava sob seu poder.
Raras vezes o País viu orador tão brilhante. O discurso era o mesmo, com pequenas adaptações para o momento e a região. Moralidade, ordem, autoridade, lei e sacrifícios. Recuperação nacional. Ladrões na cadeia, em especial os grandes. Atravessadores e especuladores no pelourinho. Vassouradas inesquecíveis a torto e a direito. Nada havia de ridículo no gesto que sempre repetia, de levantar a vassoura acima dos ombros. Era o êxtase.
Falava da inflação, da necessidade de “por a casa em ordem”. Prometia reformas estruturais na economia e direitos sociais mais amplos para o trabalhador. Finanças em equilíbrio, arrancando aplausos demorados dos conservadores participação dos empregados nos lucros das empresas, levando os esquerdistas às nuvens. Nova política externa, onde o Brasil não seria mais escravo dos Estados Unidos, mas, nem por isso, se tornaria escravo da União Soviética. Elogiava Fidel Castro e prometia silos e escoamento da produção para o fazendeiro. Reforma agrária para o camponês.
Havia, em suas palavras, um prato para cada gosto. Uma ilusão para cada sonhador. Todos terminavam por identificar, nele, o seu modelo de Presidente, ainda que, descuidadamente, não atentassem para os outros modelos, que serviam aos outros grupos.
Era respeitoso. Jamais agrediu adversários, mesmo quando agredido. Em Itapipoca, no Ceará, foi precedido no microfone por um Deputado federal, que discursava chamando Juscelino Kubitschek, então Presidente, dos piores nomes. Jânio não gostou e começou a desviar a atenção da massa. Um menino vendia balas, ao lado do palanque. Mandou chamá-lo enquanto o orador, meio desconcertado, prosseguia em suas perorações. Escolheu demoradamente uns caramelos e, quando o Deputado, numa insistência desmedida, estendeu as mãos para falar que o governo tinha as dele sujas de sangue, não teve dúvidas: tacou-lhe dois caramelos por entre os dedos, o que fez todo mundo rir e acabar o discurso.
D. Eloá a tudo assistia, meio aturdida e espremida nos pequenos palanques. Ficava bem atrás do marido. Quando ele se voltava para ela, esticando o braço, trazendo-a para perto do microfone e abraçando-a, os jornalistas já sabiam: era hora de deixar o local a qualquer custo e risco, encontrar um táxi ou um motorista entusiasmado em transportar para o aeroporto aquela gente que ficava tão próxima do candidato. Porque eram as palavras finais, que duravam pouco. Depois delas, Jânio seguia direto para o DC-3. Quem já estivesse a bordo continuava a viagem, quem não estivesse ficava, porque ele não esperava ninguém. Certa feita, José Aparecido de Oliveira, secretário particular, foi deixado em Cascavel, no Paraná, só conseguindo alcançar a comitiva dois dias depois, no interior do Rio Grande do Sul.
– “Minha esposa me pediu que dirigisse as última palavras á mulher brasileira, a verdadeira dona da vassoura, aquela que jamais se dobrou às agruras da vida e trabalha, duro, todos os dias, construindo a grandeza do país…”
Era a senha, que os jornalistas ouviam já ao longe, rezando para que o motorista fosse bom e não se deixasse ultrapassar pelo carro de Jânio, logo a seguir desembalado. Só no último comício de cada dia, noite alta, não precisavam correr para o aeroporto. Nem por isso conseguiam ficar na praça ou chegar a algum bar ou restaurante.
Era hora de outra correria, então para o posto telefônico, onde companheiros da mesma jornada de trabalho se tornavam inimigos, cada um querendo precedência para falar com as sedes de seus jornais, para a transmissão dos acontecimentos do dia. Não chegara o tempo dos satélites, do telex, dos computadores e de toda a parafernália eletrônica que hoje torna amenas as atividades de comunicação. Nem microondas havia. As ligações demoravam 5, 6 ou mais horas, conectadas do fim do mundo para o Rio ou São Paulo. Não havia furos, cada jornalista ficava sabendo da matéria do outro, mesmo se estivesse na calçada do posto telefônico.
Perigos? De vez em quando. Voando de Cuiabá para Rondonópolis, o DC-3 ficou perdido. Voava há duas horas, todos apreensivos, o combustível ia acabar. Fernando Correia da Costa, candidato a Governador do Mato Grosso, vai para a cabine ajudar os pilotos, enquanto Jânio, branco feito uma cera, tenta levantar o ânimo dos jornalistas e comenta: “Estamos perdidinhos, meus amigos, perdidinhos”. Correia da Costa manda seguir um rio, lá em baixo, guia-se por uma cadeia de montanhas ao longe e, no fim, surge a cidade. Quando o avião desce, uma surpresa: não havia um só correligionário esperando. Vem o vigia do aeroporto e explica, tomando um susto ao ver Jânio: “Aqui não é Rondonópolis. É a cidade de Mineiros, em Goiás…”
Sobrevoando Salvador, num Convair da Real Aerovias, o trem de aterrissagem baixava mas não fixava. Todos a bordo ouviam o bater surdo das rodas voltando ao compartimento de onde deveriam sair, enquanto o piloto gastava combustível para descer de barriga. Lá embaixo, na pista, ambulâncias e carros de bombeiros. O avião desceu, em manobra arriscada, onde o trem de aterrissagem foi fixado pelo atrito com o chão. Jânio, outra vez, quis levantar o moral: “Meus amigos, não foi nada”.
Atrás dele, pela primeira vez, outra voz tornou-se mais aguda e irritada, tendo o todo-poderoso candidato que se curvar a ela, entre sorrisos amarelos. Era D. Eloá botando para fora tudo o que trazia na garganta, por conta do sofrimento de tantos meses. Como todos os maridos, mais cedo ou mais tarde, Jânio recebeu sua quota de desaforos e agüentou calado.
Outra passagem engraçada foi com o candidato à vice-presidência, Milton Campos que ouviu da aeromoça a pergunta se estava com falta de ar e respondeu: “Falta de ar, propriamente não, minha filha. Estou mesmo com falta de terra…”
Alagoas, conturbada com Arnon de Mello (pai de Fernando Collor), Governador jurado de morte por adversários políticos de Palmeira dos Índios, onde Jânio chegou para um comício. O prefeito local, Robson Mendes, prometera: “Nem Jânio, nem Arnon falam da minha cidade. Dissolvo o comício à bala”. Na hora, meio dia, um sol de matar, tropas do 20º Batalhão de Caçadores cercam a praça principal e o palanque. O candidato fala, o prefeito some.
O mês de setembro de 1960 foi uma loucura. Dormia-se no avião, que viajava à noite, para ganhar tempo.
Uma viagem entre Recife e o Rio levava seis ou sete horas. Para diminuir a irritação de que toda a comitiva ia sendo tomada, desse ritmo intenso, Jânio levantava um pouco a disciplina a bordo. Mandava servir bissextas doses de uísques aos jornalistas e até se divertia com as “eleições” que faziam em trajetos longos. Ganhou quando eles votaram para Presidente. Só não gostou quando os repórteres elegeram o mais grosso da comitiva: ele mesmo.
Nos últimos dias de campanha, ninguém tinha mais dúvidas de que estava eleito. Não se apresentava mais como candidato, mas dizia em praça pública: “Quem lhes fala já é o futuro Presidente da República”.
Era mesmo. Ou foi, até que renunciou, sete meses depois da posse…
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Nelson Valente é professor universitário, jornalista, escritor e amigo inestimável
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Prezado amigo Giba,
fiquei surpreso acima mencionado, sobre minha pessoa na Universidade de Padová. Fiquei curioso e consultei a veracidade do texto acima descrito e para meu espanto: é verdadeiro. Ver consulta abaixo:
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1 Valente, Nelson
Libro
Psicanálise freudiana / Nelson Valente
2002 Polo di Psicologia( 1/ 0)
2 Valente, Nelson
Libro
Elementos de semiótica / Nelson Valente, Rubens Brosso
1999 Polo di Psicologia( 1/ 0)
3 Algren, Nelson
Libro
Chi ha perduto un americano? / Nelson Algren ; traduzione di Marina Valente
1966 Biblioteca Universitaria( 1/ 0)
Testo sensazionale professor Nelson Valente. Qui in Italia il maestro è conosciuto presso l'Università di Padova. Congratulazioni!