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Quem se aprofunda na análise da obra de Machado de Assis – e têm sido tantos os escritores – não pode deixar de considerá-la agridoce, se é possível a imagem. Sua postura foi sempre dissimuladamente risonha, talvez em função da epilepsia que ele carregava consigo, e que procurava a todo custo esconder.
O humor em Machado, assim, pode ser entendido como válvula de escape, como aparece fortemente na sua obra-prima Memórias Póstumas de Brás Cubas. Logo de saída, diz o finado: “Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio”. No dizer de Graciliano Ramos, a característica marcante dessa obra é um “sorriso franzido”.
No trabalho do escritor carioca e acadêmico (ABL) Arnaldo Niskier, é possível identificar em Machado uma adequada mistura entre ironia (o pessimismo altivo apresentado, em geral, que quer dizer exatamente o contrário do que está escrito) e humor ( tom de galhofa perspicaz e velado, envolto em dor e tragédia). Ironia e humour são atitudes que muitas vezes confundem em sua sutileza.
Não é outro o pensamento do acadêmico (ABL) Murilo Mello Filho, para quem a obra de Machado de Assis é fundada em três motivos principais “o humorismo, a tragicidade e a simbologia”. Compreendendo, como Bergson, que o riso deve ter uma significação social, o escritor Murilo Mello afirma que, “em Machado, o humorismo é aliado ao pessimismo, à amargura, ao ódio do gênero humano, à irritação que lhe causava o espetáculo da vida”.
Brás Cubas ( que poderia ser o próprio Machado) muitas vezes atira suas armas contra si mesmo, em outras ocasiões zomba de Deus e da natureza, como no momento em que analisa as mortificações a que se impõem uma mosca e uma formiga. E usa de irreverência quando entende que Marcela o amou durante 15 meses e 11 contos de reis. A mesma característica que está no conto “Teoria do Medalhão”, em que o pai ensina meios escusos ao filho para se projetar socialmente. É o Machado de Assis que todos admiramos como o maior dos nossos escritores.
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Nelson Valente é professor universitário, jornalista, escritor e inestimável amigo.
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Nelson, belo trabalho de Machado de Assis, um homem digno em sua escrita e vida, morreu em uma casa simples, de jeito simples que muitos desconheciam o modo de seu viver…
Carolina,um poema lindo!
O que sempre lembro dele é:
Não é a ocasião que faz o ladrão; a ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito…
Bela lembrança, bons tempos dedicados ao estudo da literatura
Abraço
Rose*
Sou devoradora de livros, ler as obras de Machado de Assis é sempre contagiante, entre tantos escritores maravilhosos que temos Machado de Assis é magnifico. Suas obras tendem a serem eternas, imortal.
Bjus
A coisa mais bonita dos nossos anos de estudo – do ensino básico ao superior – é a admiração que nos despertam as coisas que nos vão se ensinadas pelos mestres, na tenra infãncia e na adolescência. É como se estivéssemos descobrindo o mundo a partir dali. Confesso que a coisa mais insólita que me acontenceu na primeira aula de literatura que tive foi ter imaginado, quando a professora falou em Machado de Assis, que ela se referia a um lenhador. Afinal, “machado”para mim näo era – até então – mais do que uma ferramenta de cortar lenha, e Assis era um nome próprio, que havia em minha família na pessoa de meu irmão mais velho. Depois – é claro – aprendi que Machado de Assis fora um grande escritor brasileiro – o maior deles – grande responsável pela criação da Academia Brasileira de Letras. Hoje, eu questiono sobre a importância dessa Casa de celebridades das letras, já que foi banalizada, a ponto de “imortalizar” figurões da política, como José Sarney, uma raposa felpuda da políica nacional. Por outro lado, a “Casa de Machado de Assis” cometeu uma das maiores injustiças de sua história – eu diria até um sacrilégio – negando ao poeta gaúcho Mário Quintana, com quem convivi nos rincões do Pampa, a cadeira a que faria jus naquela instituiçao cultural, que certamente hoje Machado de Assis não aplaudiria. Parabéns ao professor Nelson Valente, por abordar esse tema, que se reporta a esse personagem enigmático da literatura brasileira, que nos deixou como legado obras fantáticas, que o mundo consagrou.
Sempre quando lembramos de Machado de Assis (os cinquentões e tanto) vem a recordação das aulas de ginásio, onde os professores nos faziam dormir em cima dos livros de Machado de Assis. Meus pais tinham, na biblioteca de casa, toda sua Obra.
Passados os anos talvez os bancos escolares optem por escritores modernistas, temporários, vanguardistas,mal sabendo eles que aqueles “castigos” que nos davam em aula de ler Machado de Assis e passar nas provas foi o que nos levou a idolatrá-lo como dizes: “todos admiramos como o maior dos nossos escritores”.
Maria Marçal – Blog Maturidade- Porto Alegre – RS