Massucatti Neto

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                Vi nesse dia 07 de setembro manifestações em todas capitais do Brasil, São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Curitiba e outras, entendo que em meio a várias situações de conflito houveram aquelas em que não ocorreram confrontos, essas a mídia não noticiou pois afinal não da audiência. Não quero aqui discordar do direito constitucional à livre manifestação e direito de expressão, não quero e nem devo afinal muitos morreram pela manutenção desse direito (e não me refiro aos pseudo-heróis que hoje estão exigindo reconhecimento pela paternidade da democracia apesar de na época estarem ostentando bandeiras com foice e martelo). O que quero saber qual é ou quais são os objetivos dessas manifestações?

maio-68

                Iniciadas pelo movimento Passe Livre, movimento “apartidário, sem vínculos sindicais, representações de classe e sem diretrizes ideológicas”, tendo como estopim o aumento da passagem do transporte coletivo e exigindo entre outras coisas melhoria na qualidade do transporte e gratuidade na passagem, se não total pelo menos aos estudantes (não percebe-se aqui uma postura tendenciosa na proteção de uma parcela da população, no caso a classe estudantil?), essas manifestações que bateram às portas de Brasília, fizeram com que as prefeituras e governos voltassem atrás no aumento e obrigou a nossa presidente vir a público fazer um pronunciamento emocionado cheio de promessas e propostas, todas vazias pois a maioria como por exemplo o plebiscito é inconstitucional, pois ela não tem poder para exigir do legislativo tal coisa. Fez também que ela tomasse mais uma decisão política e administrativamente desastrosa, trazendo médicos estrangeiros deixando a questão da saúde pública mais uma vez sem solução definitiva tal qual outros governos, e ao invés de investir pesado em qualidade, equipamentos, salários dos médicos que ai estão prefere sustentar Cuba via escravidão dos médicos que de lá vem. Me pergunto ainda como ela não teve a genial ideia de trazer professores estrangeiros, pois dentro da educação temos os mesmos problemas, professores que não querem ir até o rincões desse país ou que trabalham mal, não alcançando o padrão que se necessita, seria interessante ver professores Cubanos exaltando a figura de Fidel e as qualidades do regime para nossas crianças durante aulas de história ou como dividir de forma justa seu salário com o governo nas aulas de matemática.

                Depois das primeiras manifestações ocorreram várias outras, grupos de no máximo cem  pessoas fechando vias importantes das capitais e obstruindo estradas, destruindo patrimônio público e privado enquanto a polícia muitas vezes se vê obrigada a ficar de braços cruzados, pois a “opinião pública e os direitos humanos não deixam ela agir”.       Surgiu agora em meio a essas manifestações o movimento Black bloc, que na concepção nada mais é do que uma estratégia de manifestação usada por grupos anarquistas ou de afinidade, que usam a ação para protestar contra o regime vigente, a globalização ou capitalismo, eles visam atacar principalmente os ícones do capitalismo (mac donald’s por exemplo), e não tratasse de um órgão internacional, como fazem crer a mídia é na verdade uma tática, na qual  vários grupos com interesses muitas vezes  diferentes se mobilizam dentro de uma única manifestação. Como podem observar uma forma de agir de esquerda, um movimento do proletariado contra um regime de direita, capitalista e autoritário, que abrange desde comunistas a anarquistas, diga-se de passagem bandeiras anarquistas ostentadas por punks vi várias nos movimentos, espero apenas que eles saibam o que é realmente a ideologia anarquistas que ao contrário do que se pensa não é sinônimo de caos, nem tão pouco pode ser associado ao comunismo, pois em tese são ideias totalmente opostas.

                Percebi também bandeiras com dizeres “cadeia para os torturadores da ditadura!”, uma clara alusão ao período do regime militar onde vários presos políticos foram torturados e mortos pelo regime de então, observo que muito menos do que se morreu na revolução comunista soviética ou bem menos do que no regime maoísta, deixando “claro” que tratam-se de manifestantes pró socialismo pedindo justiça. Mas espere um pouco, o governo não está fazendo justiça, dando reconhecimento aos desaparecidos no período e pagando pensões aos seus parentes, assim como também julgando os envolvidos pelos atos de tortura e assassinato, não está?

                 Ou seja, uma miscelânea de movimentos, ideais e ideias ou pior a ausência disso e de objetivos claros, que não afeta em mais nada o governo, tanto que após tudo isso a presidente foi descansar da viagem a Rússia, não dando a mínima para o que acontecia do lado de fora de seu palácio. Não mudou nada, nada, nada. Até o movimento francês de maio de 68, que em essência surgiu do nada, sem motivos básicos, conseguiu na época colaborar com a queda de Gaulle, não foi como muitos afirmam a razão mas de certa forma colaborou. Não quero comparar aqui maio de 68, a França daquela época que vivia um renascimento pós Guerra mundial com o Brasil de hoje, estamos longe disso, mas da mesma forma de maio de 68 os movimentos atuais perderam o foco tornando-se inócuos quando poderiam fazer a diferença.

                Arrisco aqui afirmar que esses movimentos tornaram-se de certa forma, se não até patrocinados, interessantes para o governo atual, lembrando que apesar de várias bandeiras vermelhas tremularem nas manifestações o governo atual é de esquerda, o que os vermelhos queriam conseguiram, o poder, chegando até a formular um plano de perpetuação nele. Então para que a manifestação? Derrubar o governo? Há algo mais à esquerda do que temos hoje? Sim há, os regimes que ainda teimam em permanecer como dinossauros de uma ideologia falida, regimes que passam de pai para filho, de irmão para irmão, tal qual Coréia do Norte, Cuba ou China, regimes em que não há pluralidade partidária ou direito à livre expressão, regimes onde a opinião é crime previsto com penas capitais.

                Será que todas essas manifestações, esses ataques as instituições, não visa desacreditar a democracia em sua essência, dando assim a desculpa para se implantar um regime de exceção em prol da ordem pública, desmantelando-se o legislativo (que mesmo não prestando é melhor que nada, afinal os que estão lá estão, estão por nossa culpa), cerceando o judiciário, policiando a imprensa e acabando com os órgão de fiscalização que ainda tentam regular o governo?

                Preocupa-me sinceramente a atual postura da nossa presidente, pois mesmo De Gaulle em 68 ficou preocupado, agiu mesmo que muitas vezes de forma arbitraria contra a desordem social apesar de na época o país estar, repito, no melhor de seus períodos sócio econômicos, no entanto nosso governo não se vê forçado a fazer mudanças sócio econômicas nem tampouco age de forma eficaz contra a desordem, ficando a população ordeira a mercê do vandalismo e depredação, fechando-se em suas casas com medo de ser agredida. Pelo contrário parece-me até que há interesse em que esses movimentos se intensifiquem, sem haver uma resposta eficaz estando a presidente mais preocupada em fazer birra para o EUA por uma invasão de e-mails. Afinal havia alguma coisa tão secreta a tratar com o candidato de esquerda a presidência do México?

                Precisamos analisar de forma coerente o que está ocorrendo, dar o devido valor e analisar de forma clara os sinais, afinal não gostaria eu de estar em um regime onde para escrever o que penso precisasse de apoio internacional tal qual a Sra. Yoani Sanchez, vaiada em nosso país por cometer apenas um crime, acreditar na liberdade de expressão e na democracia.

4 thoughts on “Manifestações… Será o Nosso Maio de 68?

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  2. Rodrigo says:

    Olá, Massucatti.
    Concordo com muita coisa que você disse, tem muito para se refletir.
    Parabéns pela matéria.

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