Mário Quintana e Suas Duas Derrotas na ABL 3Nelson Valente

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Tive o privilégio de conhecer pessoalmente o poeta Mário Quintana.

Uma coisa é apreciar os seus versos, outra é vê-lo, conversar com ele, admirar a sua doce figura. Jantamos juntos na residência do acadêmico Arnaldo Niskier, numa das investidas do poeta nascido em Alegrete (RS) à Academia Brasileira de Letras.

Da mesma forma como adorei o seu jeito simples e bem-humorado, senti que em matéria de candidatura ele seria vítima da sua cândida ingenuidade.

A mesma que sempre colocou, com brilho, nos seus versos livres ou nos poemas em prosa, como no clássico Sapato Florido, de 1947. Senti muito as duas derrotas de Mário Quintana.

Ele merecia a imortalidade, pela qualidade do seu trabalho literário e até mesmo pela certeza de que, no convívio, seria extremamente agradável a sua companhia entre os imortais da ABL.

Por isso, num dado momento, depois de acertar a estratégias com o saudoso Austregésilo de Athayde, e existindo a indispensável vaga, o acadêmico Niskier, solicitou ao seu amigo Edgard Wallau Jr. para sondar, em Porto Alegre, pois a Academia queria elegê-lo com quase toda certeza por unanimidade.

A resposta não foi favorável. Ele havia sentido muito os reveses e não queria mais se expor. Uma pena, pois se a Academia não glorifica ninguém, pelo menos redimiria, por não tê-lo acolhido anteriormente.

Mário Quintana foi um poeta popular, da mesma estirpe de Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Vinícius de Moraes.

Tinha um carinho todo especial por crianças, a elas dedicando diversas e importantes obras, como um incrível e atraente abecedário, em que ele brinca com animais de grande presença no imaginário infantil.

O sucesso foi completo. O seu estilo criativo deu origem a um novo verbete da língua portuguesa – quintanares – com que os amigos o homenagearam pelos 80 anos. No panorama da nossa literatura, o “imortal” Mário Quintana certamente fará muita falta.

O acadêmico Arnaldo Niskier assim o descreve: – Inevitável Mário Quintana – é de um sorriso de uma criança que brota a imortalidade.

Quintana foi sem dúvida alguma, o poeta da criança brasileira. Muitos escritores e leitores, murmuram: Que falta faz esse homem…

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Nelson Valente é professor universitário, jornalista, escritor e inestimável amigo.

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6 thoughts on “Mário Quintana e Suas Duas Derrotas na ABL

  1. Maria Marçal says:

    Também me deparei a cumprimentá-lo pela Rua da Praia,poucas vezes por certo, mas nada que não me faça relembrar, principalmente nesse suave elogio que leio agora.

    Mário Quintana… O Sapato Florido ainda abriga cursos de encenação, teatro.
    Lembro-me o dia em que inscrevi minha filha, Maria Julia, aos seis anos. Permaneceu respirando aquele ambiente de cultura irmanado da lisura poética desse Escritor por longos dois anos.

    Saiu de lá pronta para não temer às palavras em público nem tampouco perder o encanto do mundo infantil.

    Adorei relembrar com este teu texto.

    Obrigada,

    Maria Marçal – Blog Maturidade – Porto Alegre – RS

  2. Rose says:

    Sentir primeiro, pensar depois
    Perdoar primeiro, julgar depois
    Amar primeiro, educar depois
    Esquecer primeiro, aprender depois

    Libertar primeiro, ensinar depois
    Alimentar primeiro, cantar depois

    Possuir primeiro, contemplar depois
    Agir primeiro, julgar depois

    Navegar primeiro, aportar depois
    Viver primeiro, morrer depois

    Mário Quintana

  3. Rose says:

    DO AMOROSO ESQUECIMENTO
    Eu, agora – que desfecho!
    Já nem penso mais em ti…
    Mas será que nunca deixo
    De lembrar que te esqueci?

    Mário Quintana

  4. Rose says:

    BILHETE
    Se tu me amas, ama-me baixinho
    Não o grites de cima dos telhados
    Deixa em paz os passarinhos
    Deixa em paz a mim!
    Se me queres,
    enfim,
    tem de ser bem devagarinho, Amada,
    que a vida é breve, e o amor mais breve ainda…

    Mário Quintana

    • Maria Marçal says:

      Esse Bilhete permanece lá no Centro de Cultura Mário Quintana junto a sua imagem.
      Além disso na Lojinha tem-se livretinhos com esse poema mais que espetacular do Mário Quintana.

      beijos,Maria Marçal

  5. Rose says:

    Nelson, que privilégio você ter conhecido Mário Quintana.
    Falar em Mário Quintana é falar de simplicidade, poesia e humildade. Que bom que ele nos deixou estas obras primas:
    “Eles passarão eu passarinho.”
    Lindo presente !
    abraço
    Rose*

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