Desde o ano 2000, os cursos das mais diversas áreas das Engenharias ofertados pelas Universidades Públicas, vêm sofrendo pesadas baixas, a partir do processo de acesso (antigo vestibular/ENEM) até sua conclusão.

Junior Gurgel

Nesta última década, a crise se aprofundou. Os resultados são os piores possíveis e inimagináveis.

Disponibilizam cinquenta vagas no primeiro semestre e cinquenta no segundo. Nos últimos cinco anos, os que conseguiram aprovação no ENEM e se matricularam, não conseguiram formar uma turma de quarenta alunos. Findo o primeiro semestre a deserção atinge 30%. Primeiro ano, metade. No último ano, restam apenas 10 ou 12 que concluem o curso, motivados pela carreira acadêmica – bolsas de Mestrado e Doutorado – não pelo mercado de trabalho.

Engenharia Civil, Mecânica; Produção; Pesca; Química; Materiais… Estão se nivelando a Pedagogia, Letras; Filosofia; Ciências Sociais e Economia: o aluno entra na Universidade, optando por estes cursos, em função do baixo nível de concorrência. Mesmo assim, ainda têm que serem “alavancados” pelo sistema de quotas, que privilegia os alunos oriundos da escola pública, afrodescendente; deficiente físico; pardo… E recentemente, a mais esdrúxula das quotas, crida no nordeste: nativos da região do semiárido ganham um peso elevadíssimo. Somando-se todas as regalias, basta não “zerar” na redação, que a vaga na Universidade está garantida.

O Drama dos Doutorados - Nesta última década, a crise se aprofundou. Os resultados são os piores possíveis e inimagináveis.
Cinco anos de Engenharia Mecânica para produzir esta estrovenga

A UFRN criou um curso de Medicina no Campus Avançado da cidade de Caicó (RN). No ENEM de 2018 o “ponto de corte” foi um dos maiores do país: 850 pontos. Os concorrentes que foram aprovados, não tinham 10% da capacidade e nível de conhecimento ou competitiva da USP. Mas, quando levavam os atestados da Escola Pública, afrodescendentes ou pardos, e nascido no semiárido, liquidava os pobres miscigenados de olhos claros, que chamam de brancos. Qual a serventia desta Universidade, que despreza em seu processo seletivo o conhecimento, e valoriza a cor da pele, origem e passagem pela Escola Pública?

O momento mais marcante do estudante universitário de Engenharia (anos 70) era o dia do seu baile de formatura. Belíssima festa após, ou concomitantemente com a Colação de Grau. Ocasião triunfal e inesquecível para família, evento marcado pelas despedidas da turma concluinte, jovens que acabara de vencer a belíssima jornada do aprendizado. De mala pronta, dia seguinte hora de partir. Enfrentar novos desafios como profissionais, no promissor mercado de trabalho do sudeste do país, onde estavam instaladas e se instalando, grandes plantas industriais. A nação na época chegou a crescer 14% ao ano. Hoje já não existem mais os bailes das Engenharias. Colação de grau de todos e num único dia, juntando um “punhado” de cada curso. Triste!

Particularizando os conhecimentos acadêmicos da Engenharia Mecânica, sua metodologia permanece “congelada” no distante tempo do final dos anos setenta. Não houve nenhum tipo de avanço em mais de quatro décadas. Algo semelhante a tentarmos alfabetizar nossos netos, usando a Cartilha de Sarita, onde aprendemos a soletrar as primeiras palavras. Ou estudar a Matemática Moderna do autor Osvaldo Sangiorgi, movimento renovador do modelo de aprendizagem para o antigo curso Ginasial.

O Drama dos Doutorados - Nesta última década, a crise se aprofundou. Os resultados são os piores possíveis e inimagináveis.

Ao iniciar o curso de Engenharia Mecânica, o aluno tem que optar em desenvolver a didática absorvida, pondo em prática estes conhecimentos construindo ao longo de todo o curso, um protótipo de automóvel fora de estrada denominado “Baja”. Um carro esportivo, que transporta só o seu piloto, nunca vendido nem adquirido no mercado ou pelas montadoras de automóveis. A segunda opção é a construir miniatura de avião (Aeromodelo), hoje peça de museu depois do Drone.

Em 2015, o Brasil produziu 2,4 milhões de automóveis, das mais diversas marcas e montadoras. Não tem um único genuinamente brasileiro. Suas peças e componentes, não pertencem à indústria nacional. Absolutamente tudo é importado, ou licenciado para ser produzido no país, usando mão de obra mais em conta. Por que as 127 Universidades públicas – afora Campus Avançados – em quase meio século nunca desenvolveram um motor de automóvel? Banhado pelo Oceano Atlântico, O Brasil tem 9.200 km de litoral navegável.

As nossas Universidades Públicas mostraram-se literalmente incompetentes em criar através de suas Engenharias (Mecânica, Elétrica; de Materiais; Produção…) possibilidades de se desenvolver no Brasil uma Indústria Naval, com centenas de Estaleiros produzindo todo tipo de barco, navios de transportes, de passageiros e cargueiros. Que se destaque o grande mercado consumidor, a região norte, em especial a Amazônia, onde 80% do transporte de pessoas e cargas são através dos rios que compõe sua gigante bacia hidrográfica.

O DRAMA DOS DOUTORANDOS
Equipe do Poli Baja posa com o novo protótipo: Aurora – Foto: Poli Baja

O Brasil hoje é o 8º maior produtor de Motocicletas do mundo. As nossas Universidades foram incapazes de desenvolver através de suas Engenharias um simples motor para locomoção em duas rodas. Aqui montamos: Honda, Yamaha; Suzuki; Shineray; Kawasaki… Mas, o “sindicalismo universitário” consome 100 bi anualmente.

Os Doutorandos das Engenharias – verdadeiros heróis em perseverança – além de terem sido ludibriados por um sistema perverso de doutrinação, e não aprendizado se depara com a dura realidade: para receber o diplomado, a Universidade exige um estágio. Em toda região norte/nordeste não existem indústrias Mecânicas ou Químicas que se enquadrem dentro dos padrões exigidos pela Universidade. Se não existe vaga para estágio gratuito, haverá emprego? Sem o estágio, não concluem o curso. Milhares abandonaram e outros tantos foram jubilados. Vale a pena manter estes cursos?

Daremos continuidade ao tema, mostrando em outros artigos, as “excentricidades” das nossas Universidades Públicas, que perdeu o “bonde” da história, como coadjuvante na construção de uma grande nação.

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