Os Adolescentes Infratores 3Nelson Valente

Em matéria de documentos oficiais, não podemos nos queixar. Estamos com uma bonita coleção, que vai desde a Declaração Universal dos Direitos da Criança, passando pela nossa Constituição, até chegar ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Tudo muito bonito, mas efetivamente inócuo.

Ao participar de um debate na Faculdade Cásper Líbero – a primeira Escola de Jornalismo da América Latina, sou inquirido sobre os meninos de rua. Lembro a tragédia que isso representa, não só pelo número crescente deles, como pela absoluta falta de perspectivas. Os menores infratores perambulam livre pelos bairros da cidade. São presos e libertados duas esquinas adiante. Os policiais têm a explicação na ponta da língua: “De que adianta levá-los? Vão ser soltos mesmo. Isso não tem jeito!”

Mesmo sendo um contingente muito numeroso, seria viável elaborar um projeto de profissionalização para essas crianças. Talvez com a ajuda de instituições da maior credibilidade, como o Senai e o Senac. Ao lado da aprendizagem de uma profissão, lições que abranjam o respeito aos cidadãos, a prevalência do mérito sobre a esperteza. Sinto que por aí possa existir um caminho de resultados apreciáveis.

Veja-se o caso mencionado do Estatuto da Criança e do Adolescente. Prevê uma grande assistência em matéria de educação, saúde, lazer, alimentação,profissionalização etc. Em termos teóricos, uma beleza. Mas quais são os municípios brasileiros que terão a devida independência financeira ( ou sobra de caixa) para se envolver significativamente em tais projetos? Não se pode afirmar que seja algo demagógico, porém, a sua viabilidade ficará condicionada à soma abundante de dinheiro, sem o que se tornará quimera inalcansável. Como tantas outras que ocuparam o noticiário, deram nome nos jornais, e desapareceram na poeira do tempo, sem deixar vestígios notáveis.

Ainda no debate da Faculdade Cásper Líbero, o professor Erasmo de Freitas Nuzzi me inquiriu sobre o seguinte fato: uma criança passa três horas na escola, dentro de uma realidade, e o restante do tempo ela dedica ao meio em que vive, ou seja, ao mundo do crime, das drogas ,da violência. O que pode fazer a educação para contornar o problema?

Enquanto não se acabar com a marginalidade – e aí há razões sociais econômicas a serem consideradas – é preciso lutar para que se amplie o número de horas das crianças em nossas escolas. Muitas delas, às vezes, nem sequer tem um lar regularmente constituído. Se fosse possível reter as crianças por mais tempo na escola, pelo menos em dois turnos, certamente os valores morais transmitidos pelos mestres funcionariam como elemento redutor das influências nefastas vividas em termos de vizinhança.É um esforço que precisa ser feito.

 

Nelson Valente é professor universitário, jornalista, escritor e amigo inestimável

 

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4 thoughts on “Os Adolescentes Infratores

  1. Anonymous says:

    Giba esse é um assunto muito polêmico precisamos ter mais foco neste assunto…parabéns pela sua abordagem tão dinâmica.

  2. Dú Pirollo says:

    Meu caro amigo Giba, boa noite!!!
    Exatamente, não adianta nada simplesmente prender o menor infrator… tem que investir em recuperação e atacar com todas as possibilidades disponíveis o foco que possibilitam a criação desses infratores… todo mundo sabe disso, só o governo não consegue enxergar e prefere gastar o dinheiro do povo com coisas desnecessárias que não trazem nenhum benefício para a sociedade…
    Parabéns pela excelente postagem!
    Grande abraço e muita luz!!!

  3. Victinho says:

    Em minha cidade (FERNANDOPOLIS-SP) tem se discutido muito sobre este assunto. O judiciário elaborou várias metas que vem sendo cumpridas sistematicamente com a ajuda de pais, orientadores e a sociedade como um todo. Regras e punições, mas também incentivos e ajuda a todos os menores que vivem em situação de risco. Os esforços estão valendo a pena e os índices de criminalidade tem caído consideravelmente.
    Em pouco tempo os resultados serão visíveis à toda sociedade, provando de uma vez por todas que este problema tem solução.
    Excelente post,
    abraços,
    Vitor.

  4. Rose says:

    O problema da criminalidade juvenil tem se mostrado bem complexo não havendo por ora soluções convincentes, razão pela qual, deve – se repensar não só as políticas públicas, como as políticas sociais, e até mesmo, a percepção atual acerca da questão.
    A situação em que se encontram os adolescentes infratores é similar a do sistema prisional para maiores de 18 anos. A maioria é composta por homens, da classe baixa, em péssimas condições de assistência familiar, com pouca ou nenhuma perspectiva de futuro promissor, foram apreendidos na prática de atos infracionais, correspondentes a crimes contra o patrimônio e possuem baixa escolaridade. Vê – se, portanto que há um estigma do delinqüente. Desta forma, delimitou – se o público – alvo, facilitando a atuação Estatal nas condutas selecionadas.
    Ótima matéria para seu livro sobre Educação, parabéns Nelson, obrigada Giba !
    Rose*

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