Preso Por um Tempo 3André Lubesi

Era manhã de domingo em um pequeno vilarejo da Itália, quando o jovem Dr. Eru foi acordado aos gritos por um garoto que pedia socorro. O menino balbuciava algumas palavras que o jovem medico não compreendia, mas pelo o pouco que entendeu pode perceber que havia uma menina em  um vilarejo próximo precisando de ajuda.

O Dr. tentou acalmar o garoto dizendo que estaria preparando sua maleta e partindo com sua bicicleta em seguida, e que faria o possível para ajudar a pobre garota, porem o menino continuava agitado e desta vez o medico percebeu em suas palavras algo sobre o rosto e a barriga da garota. Esse fato fez com que o medico se preocupasse, mas mesmo querendo crer que não passaria de uma infecção estomacal, acelerou sua saída e aumentou os itens em sua maleta.

Dr. Eru subiu em sua bicicleta e começou a pedalar o mais rápido possível, pensando é claro em qual medicação e como aconselharia um possível tratamento, mas durante o passar do tempo notou uma mudança climática brusca, aquele céu azul e ensolarado da manhã passou a ser cinza e as rajadas de vento sopravam de forma gelada como jamais ele havia visto.

O tempo passou e o vilarejo já estava próximo, pois apesar do medico nunca ter ido ate aquele local, seu conhecimento sobre as pequenas vilas da província onde morava era grande. Ao adentrar a área “habitada”, notou que as ruas estavam vazias e não conseguiu identificar igreja alguma e nem mesmo o comercio local, mas seguiu ate onde certamente seria a casa da criança enferma.

Ao final de uma pequena rua ele identificou uma porta de madeira rachada, mesmo sem uma alma viva para lhe informar sobre o local correto, ele sabia que era aquela a casa da garota. Parou sua bicicleta ao lado da porta, pegou sua maleta e deu três leves batidas e esperou ser atendido, foi ai que ele escutou uma leve gargalhada e passos que se aproximavam.

Uma senhora aparentando idade muito avançada e com um olhar sombrio, abriu a porta e sem dizer uma só palavra fez um gesto para que ele entrasse e mostrou o quarto onde a garota permanecia deitada em uma enorme cama.

A garota se levantou, sentou na cama e chamou o medico como que se quisesse dizer algo, mas estava tão fraca que sua voz não alcançava ate onde o medico estava. O Dr. se aproximou e notou um aspecto estranho na face da menina, abaixou-se muito próximo a garota, de forma  que ela conseguisse pronunciar meia dúzia de palavras em seus ouvidos e depois com um pequeno sorriso no rosto olhasse dentro dos seus olhos.

Neste momento o medico ficou aterrorizado com as palavras e correu desesperado para fora da casa sem nem mesmo pensar em pegar sua maleta. Cruzou a pequena casa em um segundo, abriu a porta de madeira subiu em sua bicicleta e por um breve momento viu pela fresta da porta a velha rindo e olhando de frente para ele.

O jovem medico começou a pedalar sua bicicleta o mais rápido que pode, apenas pensando em chegar na esquina mais próxima para deixar aquela rua para traz o quanto antes. Mais ao dobrar a esquina notou que havia chegado novamente à frente da casa, e viu a velha senhora olhando diretamente em seus olhos.

O susto foi tão grande que Eru caiu da bicicleta e sem pensar deixou-a ali mesmo, colocando-se a correr para chegar ao próximo quarteirão, pois havia pensado que devido ao desespero teria tomado o caminho errado, voltando assim à frente da casa. Mas ao chegar ao quarteirão seguinte percebeu que estava novamente na frente do velho portão onde via por mais uma vez a mesma senhora de olhar sombrio.

O terror tomou conta de Eru nesse momento, e o fez seguir correndo aos gritos procurando com isso o auxilio de alguém que pudesse dizer que essa situação não estava acontecendo, que ele apenas estava sendo enganado pela sua própria mente. Mas ao voltar correndo pelo lado oposto da esquina seguinte, chegou mais uma vez as paredes velhas da casa, e pela fresta da porta aquele semblante sombrio que ele não conseguia deixar para traz, aparecia novamente.

O medico viu sua bicicleta jogada no chão e com o pânico correndo em suas veias começou a pedalar de forma insana, porem sem resultados, pois a cada esquina, a cada quadra, a cada quarteirão que ele deixava para traz, acabava retornando a mesma porta que tentava vorazmente nunca mais ver.

Sua mente já não podia distinguir o que era realidade, neste momento o tempo como sempre mostrou o quanto é impiedoso, se distanciando a cada segundo, a cada minuto, a cada hora, a cada dia …… a cada ano, mas o medico que um dia foi jovem não conseguia notar isso, porque agora se tornou velho e nem consegue ver que esta preso naquele lugar, naquela pequena rua, naquele vilarejo, que a principio era deserto e tornou-se sua eterna morada.

 

Andre Lubesi tem formação técnica em eletrônica e é musico da banda Zorak

4 thoughts on “Preso Por um Tempo

  1. Andre Lubesi says:

    Gostaria de comentar que esse material inicialmente foi escrito como exercicio em uma aula de pré edição de video que fiz em 2010.
    O teste era escrever um conto partindo apenas da foto, gostaria de agradecer o Mestre Giba pelo espaço, o professor Andre Corradini por propor e incentivar o dom da escrita em mim e em todos os seus alunos e também ao amigo Ricardo Toyota por ter guardado a foto usada no exercicio, facilitando assim que eu pudesse mostrar exatamente a inspiração do meu conto.

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