Uma Lenda Viva do Paraquedismo Militar 5Lino Tavares

O Bairro Partenon, um dos mais tradicionais de Porto Alegre, a  Capital dos Pampas, abriga em seu interior muitas entidades e cidadãos ilustres, que se notabilizaram nos mais diversos ramos da atividade humana. Entre eles, o capitão reformado do Exército Casemiro Scepaniuk, de 89 anos, é com certeza um dos mais célebres moradores do local. Deve-se  tal notoriedade ao fato de ser um dos pioneiros do paraquedismo militar brasileiro, iniciado com a criação da Brigada Paraquestita – hoje Brigada de Infantaria Parquedista – localizada na região conhecida como Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro. Scepaniuk é o paraquedista militar de nº 44, sendo o mais antigo deles, residente em terras gaúchas.

Ele nasceu em Erechim, no ano de 1921, em uma família de origem eslava. Fez o serviço militar obrigatório em 1939, servindo, durante dois anos,  no 5º  Rgimento de Cavalaria, acontonado no bairro Boqueirão em Curitiba, dando baixa em 1941 como soldado. De volta ao Sul, Trabalhava como motorista de ônibus em Porto Alegre, quando o presidente Getulio Vargas declarou guerra ás Forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), para a qual foiconvocado, ficando de  prontidão com a sua guarnição, aguardando ser chamado para o conflito mundial. Em razão de promoções emergenciais que se fizeram necessárias no Exército (até então doutrinado pela Comissão França-Brasil) , para adequar-se ao treinamento e organograma do US Army,  que resultou no aumento de contingente em face da crição de novas Oerganizações Militares, o então soldado Casemiro Scepaniuk, mesmo sem ser cabo, foi encaminhado diretamente para frequentar um curso rápido de formação de sargentos.  

Já graduado,  foi inscrito na Escola de Educação Fisica do Exército, pois era uma atleta nato, sendo antigo jogador do clube Britânia(hoje Paraná Clube). Com essas credenciais, integrou a equipe de atletismo do Exército, em corridas de fundo e meio-fundo. Mas o chamado para participar da guerra não veio.  Na Escola de Educação Física,  Scepaniuk teve contato com as primeiras turmas de Paraquedistas que voltaram dos Estados Unidos e estavam recrutando candidatos naquela Escola  e na então recém criada Escola Militar de Rezende(atual AMAN). Contudo,  ele não gostou dos exercícios físicos ministrados pelos paraquedistas, considerando-os fora dos padrões sob os quais havia cursado a Escola de Educação Física, razão pela qual recusou o convite que lhe fora feito nesse setido.
Terminada a guerra, surgiram rumores de que o Brasil iria diminiur seus efetivos militares, para fazer frente aos problemas político e conômicos decorrentes de sua participação no conflito. Certo dia, Scepaniuk recebe um radiograma do Ministério da Guerra, nestes termos:  “O Coronel Nestor Penha Brasil, comandante da Escola de Pára-quedistas, convida ao 3º Sargento Cav Casemiro Scepaniuk a prestar exame nesta instituição, para,  após ser aprovado, cursar no Fort Benning/Georgia/USA, o curso de Para-quedista Militar”………
Mostrou o documento a um amigo subtenente,  dizendo que não iria aceitar o convite, por discordar da ginástica dos paraquedistas, segundo ele muito puxada para os padrões normais. Ouve então do amigo o seguinte conselho: “Meu filho, esta é uma oportunidade de Ouro que está sendo apresentada a você, aqui no Regimento. Você e muitos outros  vão ser desligados por excesso de contigente. Vá logo fazer esta prova e seja o que Deus quiser”.
Sensível ao conselho do companheiro mais graduado e mais antigo, o 3º Sargento Casemiro Scepaniuk aceitou o convite, foi fazer o curso e se tornou o Paraquedista  número 44 em um total  de 47 oficiais e sargentos que foram para os Estados Unidos, tornando-se os pioneiros do paraquedismo militar brasileiro, 12 dos quais ainda são vivos. De volta ao Brasil, sempre esteve ligado a área da  Educação Física, na qual atuou como  treinador de várias equipes de futebol, como o Clube Botafogo de Futebol e Regatas, bem como instrutor de atletismo do Núcleo da Divisão de Paraquedistas do  1º Exército (hoje Comando Militar do Leste).
Já como 2º sargento, o paraquedista Scepaniuck pesquisou e descobriu uma falha em um gancho do paraquedas,  que se abria, mesmo depois de ser devidamente colocado no cabo de ancoragem das aeronaves, tendo já ocasionado uma morte e alguns feridos, salvos pela abertura do paraquedas reserva. Ciente disso, criou um simples “pino de segurança”, que, inserido no referido gancho, não permitia sua abertura acidental, conseguindo com essa ideia genial salvar  muitas vidas.em  acidentes com saltos enganchados.
Chamado aos Estados Unidos,  os fabricantes de paraquedas, maravilhados com a invenção, cientificaram-no sobre a difusão dessa sua ideia  pelo mundo,  entre vários países, inclusive o Brasil, ficando o importante dispositivo de segurança em forma de pino conhecido  popularmente como “chipanique”, embora o nosso inventor conterrâneo nunca se dispusesse a patentear o importante invento.
O hoje Capitão QAO Pqdt Casemiro Scepaniuk  Integra  o Grupo Grafonsos, que congrega paraquedistas de todo o Brasil, com sede em Porto Alegre, contingente esse que costuma desfilar na Parada de Sete de Setembro de Porto Alegre e participar de encontros de confraternização com companheiros paraquedistas da Ativa, como o realizado dia 22 do corrente, em Alegrete, no Oeste gaúcho, contando com a presença desse veterano militar, que é uma lenda viva do Parquedismo do Exército Brasileira.
Nossos agradecimentos ao Paraquedista Ricardo Freire, do Grupo Grafonsos, que colaborou  gentilmente, pesquisando e fornecendo os dados biográficos relativos ao personagem central desta reportagem.
Uma Lenda Viva do Paraquedismo Militar 6

Lino Tavares é jornalista diplomado, colunista na mídia gaúcha e catarinense, integrante da equipe de comentaristas do Portal Terceiro Tempo da Rede Bandeirantes de Televisão, além de poeta e compositor

16 thoughts on “Uma Lenda Viva do Paraquedismo Militar

  1. Lino Tavares says:

    Ana Tassoni querida, como autor da matéria sinto-me no dever de informar que o nosso pioneiro do paraquedismo militar, Casemiro Scepaniuk , já não está mais entre nós. Há cerca de 4 anos nos deixou, indo habitar sua última morada, em Porto Alegre, que como sabes é um mausoléu turístico, devido à simbologia paraquedista que o ornamenta, ficando ao lado de Vitor Mateus Teixeira (Teixeirinha), grande cantor regionalista e cinegrafista gaúcho das décadas de 1950 e 60, que também é tipificado com um ornamento do gênero artístico em que atuava.

  2. Âna Tassoni says:

    Não sou paraquedista, mas amo tudo disto pois cresci ao lado de Osmar Ludwig, um apaixonado e praticante deste esporte. Gostaria de um dia sentir a liberdade que vocês sentem nas alturas, mas tenho minhas limitações e, sendo assim os acompanho a distância. Parabéns ao Grupo Grafonso por ter um grande professor de vida e vivência ao lado de vocês.

  3. HUMBERTO DURGANTE DOS SANTOS says:

    Desse grupo de 47 Ofs e Sgts que foram os precursores do paraquedismo nas FFAA do Brasil, começando pelo Exercito, eu tive o prazer de conhecer um deles, quando de meu serviço militar obrigatório, no 19º Grupo de Artilharia de Campanha, Santiago-RS – Cel Art Pqdt JOSÉ DE ESCOBAR BEVILLAQUA – Até então eu não tinha uma idéia formada sobre o que era ser militar e muito menos um militar profissional ou de carreira. Ao conhecer esse Senhor, já na época (1972), com o preparo físico que dispunha, a vibração e a conduta de seus Ofs e Sgts na educação física, a marcialidade e a sua apresentação individual com aquele brevet prateado em destaque, comecei a perguntar ao meu Sgt, como aquele Coronel era diferente dos outros que se conhecia, apesar de poucos…lembro sempre do sorriso sarcástico do Sgt ao me responder – ele é um paraquedista, não é um qualquer!!…a partir daí comecei a buscar maiores conhecimentos e me empolgar com as informações; prestei concurso para a EsSA, fui chamado, com um ano de formação solicitei o CBPqdt, fui aprovado, servi na Bda Pqdt, sou MS e SL, busquei conhecer mais sobre os que foram ao Fort Benning/USA , encontrei o então Ten BEVILLAQUA e o Sgt SCEPANIUK, ícones do nosso EB na especialidade de Páraquedismo…BRASIL, ACIMA DE TUDO!!

  4. MÁRCIO MOREIRA DA SILVA says:

    SOU PARAQUEDISTA Nº 48986 89/3 !!!!!!

    PARABÉNS LINO TAVARES!!!! POR ESSA HISTÓRIA LENDÁRIA!!!

    QUE NA VERDADE POUCOS PARAQUEDISTA SABE DESSA LINDA HISTÓRIA !!!!!!

    FORTE ABRAÇO!!!!

    E FICA O NOSSO BRADO ((((( BRASIL ACIMA DE TUDO )))))

  5. Jornalsta Lino Tavares says:

    Obrigado, caro Osmar Ludwig. Como bom Pqdt do glorioso Exército Brasileiro, você foi “rápido no gatilho” e atendeu ao pleito de nosso leitor e seu colega paraquedista de Floripa. Volte sempre para publicar o que quiser na Revista Eletrônica Gibanet.com, que está sempre aberta a postagens de brasileiros que honram à Pátria, hoje enxovalhada pela presença de traidores de ontem no poder.

  6. OSMAR LUDWIG says:

    IRMÃO PARAQUEDISTA “JOÃO FERNANDES FILHO”, NOS REUNIMOS, EM UM ALMOÇO, MENSALMENTE NO CLUBE GERALDO SANTANA – POA-RS NOS SEGUNDOS SÁBADOS DE CADA MÊS.
    SEJA BEM VINDO

  7. joao fernandes filho says:

    Olá;
    Sou o Pqdt 24.339 do ano de 1973 do 8º GAC PQDT.
    Gostaria de obter informações se o Grupo GRAFONSOS se reúne em Porto Alegre, pois estou residindo em Florianópolis mas desejo encontrar-me com meus companheiros de farda.
    Um grande e forte abraço.
    BRASIL! ACIMA DE TUDO!

    Att.
    João Fernandes Filho

  8. Lino Tavares says:

    Pois é, amigo Juliano. Parece que o século 21 começou trazendo na garupa os medíocres e traidores pátrios de ontem, fazendo-os senhores do poder. Enquanto se contemplam lacaios de Moscou, de ontem, concedendo-lhes indenizações milionárias e pensões indevidas, recompensando quem deveria estar na cadeia por crime de traição à Pária, esquecem-se, como trastes velhos guardados em um depósito, pessoas como o nosso Pqdt Casemiro, que deveria ser condecorado e premiado consoante aquilo que representa como marco glorioso do nosso intrépido Paraquedismo Militar. ,

  9. Juliano Fagundes says:

    Casemiro é meu tio-avô.
    Muito legal encontrar este post falando dele e da sua história. Uma pena que pessoas como ele sejam esquecidas tão facilmente pela nossa “história”.

    • Anderson Lucas Scepaniuk says:

      Infelizmente não tive o prazer de servir as forças armadas do Brasil.
      E não tive muito incentivo do meu pai na época.
      Casemiro Nelson scepaniuk.
      Mas queria ter tido a oportunidade de ter conhecido o senhor Casemiro Scepaniuk.
      Mesmo nunca ter tido prazer de conhecelo.
      Apenas escutei algumas histórias q meu pai falava dele.
      Mesmo não o conhecendo tenho orgulho de carregar o sobrenome dele.

  10. Saul Silva says:

    Realmente,o colega veterano Scepanuick é um orgulho para o corpo de veteranos do Brasil,já tive a honra de desfilar por duas vezes com essa lenda viva do nosso paraquedismo,espero em 2013,contar com a presença deste Sr que muito nos orgulha. Sou o Pqdt Saul Silva,n 4975 de maio/58,que serviu na 2 Ciia do Btl Santos Dumont.

  11. daniel silva cavlheiro says:

    ola,sou pqd de 86 8gac 3bateria e gaucho de porto alegre do bairro passo da areia,atualmente moro no rio de janeiro,esse homem e um verdadeiro heroi que nos enche de orgulho pelo seu carater,brio e a nossa garra sulista e se a brigada paraquedista e hoje o que e ,egracas a esses verdadeiros brasileiros e homens que honraram essa boina e esse bota marrom,que deus te abencoe meu amigo gauchao macho dos pampas.

  12. Paulo Ernesto says:

    Felizmente sou vizinho desta lenda viva do paraquedismo brasileiro. Um homem de 92 anos e que até hoje se reúne com os amigos para relembrar seus tempos quando foi precursor da brigada paraquedista, fazendo seus primeiros saltos em solo americano. Que Deus o conserve por muitos anos ainda. Um abraço

  13. Taiguara says:

    Muito bom saber sobre participantes históricos e ainda vivos da história brasileira que é sempre muito curta. Só lembramos de personagens recentes, os primeiros participantes de longas datas são esquecidos pela população e principalmente pelos governantes de todas as épocas. Parabéns pela matéria.

  14. Lino Tavares says:

    É, infelizmente somos um país “desmemoriado”, caro Taiguara, que esquece seus passado de glórias, cultiva um presente de roubalheira institucionalizada e projeta um futuro de sonhos, para manter a massa cega do eleitorado sob o narcótico dos sonhos mirabolantes. O “Brasil brasileiro” de que falou Ari Barroso, em “Aquarela do Brasil”, já não existe mais. O que existe agora é o Brasil do “Salve-se quem puder”. Como já dizia aquela velhinha moradora ao lado de uma bailanta, “Durma-se com um barulho desses”.

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